Saturday, November 3, 2007

Ithamara Koorax by DJ Zé Pedro


Ithamara Koorax is one of the artists featured on DJ Zé Pedro's book "Meus Discos e Nada Mais - Memórias de um DJ na música brasileira", published by Editora Jaboticaba on October 8, 2007
Pages 254 and 255:
"Ithamara Koorax é irmã da atriz Soraya Ravenle. Ithamara Koorax teve como madrinha a grande Elizeth Cardoso. Ithamara Koorax é uma cantora.
Se nada disso adiantou e você continua sem saber quem ela é, você é brasileiro.
Os santos de casa não fazem milagres por aqui. Mad o famoso jeitinho "south american way" de ser sempre resolveu esta questão: se não rola por aqui, bye bye, Brasil. Auf wiedersehen.
O samba da minha terra, quando se canta lá fora, todo mundo bole. Ithamara sabe disso. Sua carreira praticamente só existe por lá.
Seus discos são de um preciosismo que a coloca em situação de igualdade com qualquer cantora do mundo. Por isso virou paixão mundial. E por isso talvez o Brasil ignore seu canto. Tom Jobim sofreu quando sua música virou universal. Carmen Miranda, nossa portuguesa mais brasileira, também. Somos muito ciumentos; não suportamos entregar o que é nosso. Por isso ignoramos os nossos tesouros adorados em outras terras.
A primeira vez que ouvi e vi Ithamara Koorax foi no início dos anos 1990, numa pequena sala da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Não acreditei. Sentia-me em outro lugar: Carnegie Hall, Nova York; ou Olympia, Paris. Uma cantora fenomenal. Uma atriz dramática.
Interpretava à capela uma versão de "Disritmia", de Martinho da Vila, que nunca mais saiu da minha cabeça.
Seu canto fez barulho, naquele período. Espetáculos lotados no Rio de Janeiro. Depois, seu primeiro disco saiu. Ao vivo, como deveria ser. Um disco fora de catálogo. Uma tristeza para quem não ouviu.
Em "Linha de passe", de João Bosco e Aldir Blanc, por exemplo, Ithamara tem uma interpretação vocal impressionante. Seu canto vai da nota mais aguda à mais grave, acompanhando a velocidade vertiginosa da canção.
Aqui neste seu primeiro trabalho. começam a aparecer para o público as parcerias de Guinga e Aldir Blanc: "Nem cais, nem barco" e "Lendas brasileiras". Ithamara e Leila Pinheiro passam a fazer shows divulgando a obra dos dois.
A intensidade de seu canto adapta-se perfeitamente às canções teatrais de Chico Buarque, e duas interpretações deste disco não deixam dúvida: "As vitrines" (até então nunca registrada por uma mulher) e a terrível "Canção desnaturada", da peça Ópera do malandro. Para encerrar o disco, "Basta um dia", da peça Gota D'Água, devastadora em sua gravação.
O disco também oferece inéditas. E que belas inéditas!
"Predestinado amor", de Mauricio Carrilho e Paulo César Pinheiro, que nos remete ao tempo das lindas valsas cantadas por Clara Nunes.
"Larga do meu pé" e "Cordão de prata", duas faixas compostas por seu músico, Paulo Malaguti, tendo a segunda uma letra de Helena Jobim ("Não tenha ciúmes de mim / Tenho cinco anos só").
As canções de Jobim também estão presentes no disco, e Ithamara não faz por menos: "Luiza" e "Sabiá", mostrando não ter medo de revisitar os clássicos brasileiros, talento esse que deve ter atraído Elizeth Cardoso para o seu canto.
Ithamara Koorax tem seguido em frente. Seus álbuns saem com frequencia lá fora. Uma discografia impecável. Músicos do mundo inteiro trabalham com ela.
Foi aclamada como uma das quatro melhores cantoras do mundo pela revista Down Beat.
Nos encontramos uma vez, em estúdio, para fazer alguma coisa juntos. Ela estava interessada nessa minha história de remixar clássicos da música brasileira. Não foi daquela vez.
Mas será."
- DJ Zé Pedro