Tuesday, February 17, 2009

Koorax @ Bar do Tom - More Pics

(Paula Toller, Ithamara Koorax & Ministro Carlos Minc)

(Paula Toller & Ithamara Koorax)

(Paula Toller & Ithamara Koorax)

(Celso Colombo, Ithamara Koorax & Washington Olivetto)

(Celso Colombo, Ithamara Koorax & Washington Olivetto)

(Ministro Carlos Minc, Ithamara Koorax & Alberico Campana)

(Paula Toller, Ithamara Koorax, Ministro Carlos Minc & Alberico Campana)
(Paula Toller & Ithamara Koorax)
(Ministro Carlos Minc & Ithamara Koorax)

All Photos by Julio Pereira

Friday, February 6, 2009

Diva do jazz é brasileira - "Chiques & Famosos"

Revista "Chiques & Famosos"
Ano II, Nº 11
6 de fevereiro de 2009
Pág. 6 - Sumário
Spot: o jazz de Ithamara Koorax no Brasil
Pág. 43 - VERBO
A Palavra das Celebridades
VOZ EXPORTAÇÃO
Sucesso nos EUA, a cantora brasileira de jazz, Ithamara Koorax, fala de sua aplaudida carreira e de seu estilo inconfundível.
Diva do jazz é brasileira
A crítica musical norteamericana elegeu as três melhores intérpretes desse gênero. E uma delas é Ithamara Koorax
Por Décio Piccinini
Mas o sucesso não é novidade para a cantora que depois de gravar muitos temas para novelas globais, decidiu botar o pé na estrada e abalar o planeta com seu jeitão peculiar de cantar. De tudo... É aplaudida e homenageada como fenômeno da música. Isso a ponto de conquistar até a crítica musical dos Estados Unidos que, quando se trata de jazz, pode ser bastante radical, quase protecionista. Por isso, para um músico ou intérprete de outro país ter seu talento reconhecido, precisa ser extraordinário. Algumas poucas cantoras brasileiras fizeram história por lá, atrevendo-se a cantar jazz. Nomes como Flora Purim, Leny Andrade e agora, Ithamara Koorax.
Versão integral da entrevista concedida por Ithamara Koorax ao jornalista DécioPiccinini

1. No Brasil, ser, ou não, a melhor cantora do país, pouco significa em termos de realização financeira. E nos Estados Unidos? Como é a vida da terceira melhor cantora de jazz do mundo? Muita grana, mil empresários implorando sua assinatura em contratos milionários, limusines, altas badalações? Ou não é tudo isso?

IK: É e não é. Dentro dos Estados Unidos, seja para shows ou gravações, realmente sempre colocam limusine à minha disposição. E não é de hoje não. Na primeira vez que eu fui a trabalho para Nova Iorque, em 1991, o produtor Creed Taylor colocou uma limo a minha disposição durante dez dias. Na Ásia também rola essa mordomia, especialmente no Japão e na Coréia, onde recebo tratamento de pop-star condizente com a minha colocação no mercado. Afinal, desde 2000 eu não canto em clubes de jazz, só faço grandes concertos para uma media de 5 mil pessoas em grandes teatros ou ao ar livre. Quando estou em Nova Iorque ou Los Angeles, é difícil ficar alguma noite sem ir a uma festa badalada. Na Europa também, mas os deslocamentos durante as turnês é menos glamuroso, geralmente de trem, porque as cidades são muito próximas, então não compensa ir de avião por causa do tempo que se gasta em aeroporto. Mas os trens são maravilhosos, especialmente na primeira-classe e dentro da Suiça, onde irei fazer 12 shows agora na próxima turnê que começa dia 14 de março e vai até final de abril.

2. Não é incorreto rotulá-la como intérprete de jazz já que você canta de tudo? Há quem diga que sua definição como cantora de jazz não é correta, uma vez que tanto em discos como em shows, você flerta também com samba, com bossa e outros ritmos. Ora, a Diana Krall canta "I've Got You Under My Skin" com batida de bossa e com a introdução daquele bolero, "Contigo En La Distancia", sem que ninguém reclame. Você acha que essa mania de querer classificar tudo, separar as coisas, de querer tudo rotuladinho é mania de brasileiro?

IK: Eu nunca me auto-rotulei como cantora de jazz. Quem colocou esse carimbo foi a crítica internacional. E quando os maiores jornalistas e historiadores de jazz me definem dessa maneira - pessoas como Ira Gitler, Thom Jurek, Fred Brouchard, Frank-John Hadley e Scott Yanow -, eles devem saber o que estão falando. O Scott, aliás, acabou de me incluir entre as maiores cantoras da história do jazz no novo livro dele, "The Jazz Singers: The Ultimate Guide", tendo deixado de fora Madeleine Peyroux, Norah Jones e Joni Mitchell. Eu vou reclamar? Eu fico é feliz!!! Mas é óbvio que eu não canto apenas jazz. Já gravei dez temas para trilhas de novelas da TV Globo que não têm nada a ver com o jazz. Meu trabalho na área da dance-music, que desenvolvo na Europa desde 1994, já gerou vários Top 10 Hits em Ibiza e mais de cinquenta remixes feitos por DJs como Tom Novy, Parov Stelar e Tetsuo Shibuya. No mundo todo,inclusive no Brasil, volta e meia faço concertos de música clássica com orquestras sinfônicas. Não aceito limitações e não quero me prender a um estilo.

3. Toniquinho, baterista da Jazz Sinfônica, diz que, salvo raras exceções, o brasileiro nasce surdo de um ouvido e com uma banana enterrada no outro. É isso mesmo?

IK: Adoro o Toniquinho, com quem tive o prazer de tocar no lindo concerto que fiz com a Orquestra Jazz Sinfônica em 2005, mas não concordo com ele. A platéia brasileira é a mais musical e calorosa do mundo.

4. Quando assinou contrato com a gravadora Som Livre, você foi cantar no Faustão. Era para cantar duas músicas. O Ibope subiu, o sucesso foi tanto que você ficou mais de 20 minutos lá. Só que isso aconteceu uma vez. Você acha que isso se repetiria se voltasse na semana seguinte?

IK: Se eu fosse convidada para ir ao Faustão uma vez por mês, como acontece com alguns artistas, eu seria uma das cantoras de maior popularidade no Brasil, mesmo sem cantar axé ou sertanejo. Não tenho dúvida alguma! Outra coisa: quem inventou essa bobagem de me classificar como "elitista" foi a crítica brasileira, que vive chamando o povo de burro. E nenhuma das duas coisas é verdade. Meu som não é elitista nem o público é burro.

5. Você concorda com quem acha que brasileiro, às vezes, até gosta de música boa, mas... reage?

IK: No meu caso, felizmente reage aplaudindo muito. A crítica é que fica enlouquecida quando vê alguém que eles não consideram "popular" fazendo sucesso, lotando todos os shows. É uma velha e ultrapassada mania de esnobismo. Enquanto isso eu sigo em frente, fazendo uma média de 80, 90 shows por ano. E todos lotados, em qualquer lugar do Brasil ou do mundo. Não faço "jazz de museu", não sou tradicionalista, e por isso as pessoas gostam tanto dos meus shows, mesmo as que não são fanáticas por jazz.

6. Cada vez que se publica alguma coisa sobre você, fala-se da influência que sofreu de Flora Purim. Eu ouço uma, depois a outra e não vejo influência alguma. Tem?

IK: Tem sim. Talvez você tenha ouvido apenas os trabalhos mais recentes da Flora. Mas os discos que me influenciaram foram os que ela gravou nos anos 70, quando a estética dela era completamente diferente da atual.

7. Não é raro vê-la se apresentando em pequenas cidades do interiorzão do Brasil. Seguramente, nesses locais você não ganha os cachês que receberia em Berlim, Tóquio ou Nova York. Então, você faz essas apresentações para não perder o pé em nossa realidade, para que esse povo possa tomar contato com música de verdade, enfim, por que?

IK: Exatamente por essas razões que você citou. As minhas "férias" são passadas excursionando pelo interior do Brasil, geralmente a convite do SESC, que desenvolve este trabalho maravilhoso de subsidiar shows para uma platéia que não teria acesso de outra maneira. Claro que o cachê é menor, mas a minha alegria é a mesma ou até maior ao ver as pessoas trazendo discos para eu autografar e me tratando com muito carinho.

8. Qual é seu ideal de diversão?

IK: Dançar e namorar muuuuuito!

9. Como foi a sua ida para o exterior? Como aconteceram as primeiras oportunidades por lá?

IK: Eu nunca decidi sair do Brasil. A internacionalização da minha carreira aconteceu naturalmente, foi um processo orgânico, nada foi premeditado. Os convites para shows e gravações foram surgindo primeiro na Ásia, depois na Europa e finalmente nos EUA depois de 2000. E na verdade eu nunca deixei o Brasil, até hoje passo grandes períodos aqui. Em 2005 eu fui contratada pelo Sofitel para reinaugurar o Horse's Neck Jazz Bar, em Copacabana. Eles me trouxeram de Los Angeles e eu fiz uma temporada de três meses, com casa lotada diariamente. Voltei em 2006 e fiquei em cartaz quatro meses. Eu viajo pelo Brasil todo, já cantei na Bahia, no Acre, no Pará, em Alagoas, Piauí, Amapá, Sergipe, Ceará, e sou sempre muito bem recebida. As pessoas conhecem meus discos, principalmente as gravações para as dez trilhas de novelas da Globo, e lotam os shows. Isso é muito legal porque mostra que o público brasileiro não me esquece, mesmo que eu fique metade do ano no exterior. Hoje vivo em avião. Passo um bom tempo em Los Angeles e Nova Iorque, agora aluguei também um apartamento em Lucerna, na Suiça, para servir de base para as duas turnês anuais que faço pela Europa. E procuro vir ao Brasil sempre que possível, aceito todos os bons convites para shows que aparecem, pois amo o meu país e o meu povo, adoro cantar aqui. Eu nunca me distanciei da minha terra.

10. Com essa crise econômica, como o povo dos vários países onde você se apresenta está reagindo? As platéias estão ficando reduzidas?

IK: Por enquanto não noto diferença, pelo contrário. Acabei de realizar duas temporadas superlotadas em janeiro, no Rio de Janeiro, no "Mistura Fina" e no "Bar do Tom". Precisei fazer até shows extras! Agora estou indo em fevereiro para a Ásia, depois de shows em Curitiba e São Paulo. Em meados de março começa nova turnê pela Europa, e muitos concertos estão já com ingressos esgotados. É bom lembrar que, enquanto a vendagem de CDs caiu assustadoramente em 2008 no mundo todo, as receitas com shows aumentaram bastante. Dentro desta nova realidade, fazer shows é muito mais importante do que lançar discos. Até o Elton John já falou isso.

11. Quando o público pede uma música sua que não está programada, você atende?

IK: Geralmente sim, porque tenho mais de 200 músicas ensaiadas com minha banda. É só procurar a partitura.

12. Qual a música que você tem de cantar - em suas apresentações - caso contrário sai briga. É "Serenade in Blue" ou alguma daquelas de telenovelas como "Cristal" e outras?

IK: Depende do contexto do show. No Brasil, as músicas mais pedidas são geralmente "Iluminada", que é uma obra de Chopin com letra do Aldir Blanc e foi tema da mini-série "Riacho Doce", e "Disritmia", do Martinho da Vila, que eu nunca gravei mas virou um "clássico" do meu repertório. Na Ásia, cantar "Manhã de Carnaval", de Luiz Bonfá e Antonio Maria, que eu gravei em 1996, é uma cláusula contratual. Na Europa pedem muito "Un Homme et Une Femme", "Bye Bye Blackbird" e "I Fall in Love Too Easily".

13. Fale de seu dia-a-dia.

IK: Muito trabalho, muita dieta e muita ginástica! Vivo em dieta...(rsss) Adoro doces e é difícil me controlar, principalmente nas turnês e quando está muito frio, abaixo de zero. Continuo fazendo aula de canto e também pratico sozinha pelo menos uma hora por dia. Gosto de nadar e de fazer Pilates.

14. Você se ligaria sentimentalmente a alguém que não tivesse a menor percepção musical?

IK: Jamais. Não por preconceito, mas porque faltaria uma coisa essencial no relacionamento. Curtir música sozinha não teria a menor graça.

15. Para conseguir viver razoavelmente de música, só mesmo em outros países?

IK: Acho que não. Tem dezenas de artistas milionários no Brasil, não tem?

16. Na capa do álbum "Rio Vermelho", você se deixou fotografar toda sexy. Depois, isso não aconteceu mais. Por que? Você acha que demonstrar sensualidade prejudica o conceito de "seriedade musical"? Se fosse assim, pobres das pernas de Diana Krall e Julie London.

IK: Eu não acho que prejudique, mas os japoneses acharam. Tanto que, quando o "Rio Vermelho" foi lançado lá, em 1995, fizeram uma nova foto para a capa, para passar uma imagem mais "séria". A princípio eu fiquei chateada, porque adoro aquela foto sensual feita pelo Livio Campos. Mas depois tive que concordar com eles, porque o disco chegou ao Top 10 e vendeu muito, além de ter sido aclamado pela crítica. Depois eles ficaram mais liberais, tanto que não mudaram a capa do "Love Dance" (de 2003), que também é sensual.
Pág. 95
SHOWS
por Patrícia Morgado
Ithamara Koorax presenteia paulistanos

Considerada a terceira melhor cantora de jazz do planeta, Ithamara Koorax retorna a São Paulo e se apresenta no próximo dia 11 de fevereiro no Teatro Cosipa Cultura, zona sul da capital paulista. Após passar pelo Rio de Janeiro e fazer uma aclamada turnê pelos Estados Unidos, a cantora brasileira interpreta as canções de "Brazilian Butterfly", seu último album. Dividindo a cena com o pianista e maestro José Roberto Bertrami, ela embala os fãs com sucessos como "Meditação", "Autumn in New York", "Manhã de Carnaval", "I Fall in Love Too Easily", "Se Queres Saber" e "Pigmalião 70". Depois de São Paulo, a estrela faz shows no Japão, Coréia e Europa.

Sunday, February 1, 2009

Ithamara Koorax interview for "O Fluminense"

Jornal "O Fluminense"
Niterói, domingo, 1º, e segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009
Ano 131, Nº 38.522
Ithamara Koorax - A musa do Jazz
Niteroiense é eleita uma das melhores do jazz
Em turnê pelo Brasil, a cantora Ithamara Koorax, que atualmente mora em Los Angeles, nos Estados Unidos, fala a O FLU Revista do início da carreira e da associação com grandes músicos do jazz, além de revelar como conquistou o respeito dos críticos internacionais.
O FLU Revista
Fevereiro de 2009 - Número 45

Entrevista Ithamara Koorax
Na lista das MELHORES
A niteroiense Ithamara Koorax volta ao Brasil com a turnê "Brazilian Butterfly", carregando o título de uma das três melhores cantoras de jazz do mundo
Thaís Sousa
Fotos: Marcio Oliveira
Pouco menos de 19 anos de carreira foram suficientes para que Ithamara Koorax se consagrasse como uma das melhores cantoras de jazz do mundo, segundo a revista DownBeat, a "bíblia do jazz"... Aos 43 anos, a cantora alterna sua rotina entre viagens e apresentações pelos Estados Unidos, Europa e Ásia. Mas, ao aportar no Brasil para mais uma temporada de shows, Ithamara falou a O FLU REVISTA. Para poupar seu instrumento, a voz, a cantora concedeu entrevista por e-mail, mas fez questão de receber a equipe no Bar do Tom, no Leblon. Acompanhada pelos músicos Jorge Pescara (baixo), José Roberto Bertrami (teclados), Haroldo Jobim (bateria) e Paulo Fernando Marcondes Ferraz (percussão), ela cantou as músicas de sua turnê "Brazilian Butterfly", que já rodou o mundo.

Versão integral da entrevista concedida à repórter Thaís Sousa, do jornal "O Fluminense":

1) O seu primeiro contato com a música foi em canto coral. Como foi esse início e como chegou à carreira solo?

Na verdade meu primeiro contato com a música se deu através do estudo de piano clássico, com Helda Pinheiro dos Santos, grande pianista e harpista de Niterói, aos 5 anos de idade. Logo depois me alfabetizei ao mesmo tempo em que estudava solfejo, harmonia e teoria musical com Isis Machado, me formando aos 12 anos em teoria. O canto coral veio em seguida, quando entrei para o Coral do Centro Educacional de Niterói, regido pelo Professor Ermano Soares de Sá. Foi uma época maravilhosa, viajamos pelo Brasil e pela Europa, ganhamos vários festivais, e foi aí que surgiu a vontade de, um dia, adotar a música como carreira. Durante algum tempo eu era "cantora de final de semana". Gravei vários jingles, fiz backing-vocal para Tim Maia e Bebeto, participei de um disco de Vicente Viola, tive a honra de participar de shows de Tito Madi e Paulo Cesar Pinheiro, mas somente iniciei a carreira-solo como profissional em 1990.

2) Quais foram as suas influências musicais?

Minha mãe, que ainda vive, era cantora lírica, e meu pai também adorava música. Ambos poloneses. Eu fui a primeira pessoa da família a nascer no Brasil. Além de muita música clássica, eles ouviam música popular. Minha primeira cantora favorita foi Elizeth Cardoso, porque eu cresci ouvindo o histórico disco "Canção do Amor Demais", no qual João Gilberto plantou a semente da bossa nova ao acompanhar Elizeth na faixa "Chega de Saudade". Mas eu amava o disco inteiro, sabia todas as músicas e os arranjos de cor. Depois me apaixonei por Elis Regina e Barbara Streisand. Ouvia também Tony Bennett, Frank Sinatra, Chico Buarque, Stellinha Egg, Paulinho da Viola e Edu Lobo. Lembro de uma loja de discos na Rua Moreira César, entre Belisário Augusto e Oswaldo Cruz, cujo dono era o Elton, hoje dono do Steak House. Acho que se chamava Zoom. Foi lá que eu comprei meus primeiros discos de jazz, do selo Pablo, que lançava os LPs da Ella Fitzgerald e da Sarah Vaughan nos anos 70. Jamais poderia imaginar que, um dia, eu assinaria contrato com a Milestone Records, que havia comprado a Pablo, e minhas gravações seriam lançadas em compilações ao lado de faixas da Ella e da Sarah...

3) No início do seu trabalho, nos primeiros álbuns, seu estilo era MPB. Como chegou ao jazz?

Em 1991 eu fui convidada pelo lendário produtor Creed Taylor para participar, em Nova Iorque, de um disco do trompetista Art Farmer. Nos intervalos e noites de folga eu fui a vários shows de jazzmen como Louie Bellson, Michel Camilo, Gene Bertoncini, Joe Beck e de Lew Soloff, ex-integrante do Blood, Sweat & Tears, um grupo que eu amava. Claro que eu também fui assistir Liza Minelli no Radio City Music Hall, mas passei a maior parte do tempo ouvindo jazz por quase dois meses. Também acompanhei a mixagem de um disco do Luiz Bonfá, produzido pelo Arnaldo DeSouteiro no estúdio do Eumir Deodato, sem saber que, três anos depois, eu viria a trabalhar com esses três feras. O Arnaldo, aliás, foi o principal responsável por desenvolver minha paixão pelo jazz. Eu mesma produzi meu primeiro CD, junto com Mauricio Carrilho e Paulo Malaguti, e ficou um trabalho muito bonito, com músicas do Guinga e do Aldir Blanc, uma parceria que eu lancei. Tenho até o vídeo de uma entrevista do Aldir na TV Educativa dizendo que eu era "a terceira parceira", de tão envolvida que eu estava naquele processo de criação. Ganhei vários prêmios, mas o disco vendeu pouquíssimo. Ao gravar o segundo CD, "Rio Vermelho", em 1994, convidei o Arnaldo DeSouteiro para produzir. Ele adicionou elementos jazzísticos, improvisos e chamou músicos como Bonfá, Ron Carter e Sadao Watanabe. Ficou um disco de MPB, mas muito sofisticado. Ainda teve o Tom Jobim, que se ofereceu para participar porque tinha gostado das gravações das músicas dele no disco anterior. E quando você trabalha com músicos desse nível, você aprende muito. Embora tivesse apenas uma música americana ("Cry Me A River"), o disco foi rotulado como jazz no exterior, chegou ao Top 10 no Japão e levou minha carreira a tomar um rumo internacional.

4) Quando você decidiu sair do país? Foi pela música?

Eu nunca decidi sair do Brasil. A internacionalização da minha carreira aconteceu naturalmente, foi um processo orgânico, nada foi premeditado. Os convites para shows e gravações foram surgindo na Ásia, na Europa, nos EUA. E na verdade eu nunca deixei o Brasil, até hoje passo grandes períodos aqui. Em 2005 eu fui contratada pelo Sofitel para reinaugurar o Horse's Neck Jazz Bar, em Copacabana. Eles me trouxeram de Los Angeles e eu fiz uma temporada de três meses, com casa lotada diariamente. Voltei em 2006 e fiquei em cartaz quatro meses. Eu viajo pelo Brasil todo, já cantei na Bahia várias vezes, no Acre, no Pará, em Alagoas, Piauí, Macapá, Ceará, e sou sempre muito bem recebida. As pessoas conhecem meus discos, principalmente as gravações para as dez trilhas de novelas da TV Globo, e lotam os shows. Isso é muito legal porque mostra que o público brasileiro não me esquece, mesmo que eu passe metade do ano no exterior.

5) Existe espaço comercial para o jazz no Brasil?

Claro! Diria até que mais do que nunca. Uma cantora como a Leny Andrade, que é a nossa Sarah Vaughan, não pára de fazer shows no Brasil. Também houve um aumento enorme no número de festivais de jazz, que há dez anos atrás não existiam. Eu já cantei nos festivais de Ipatinga (Minas Gerais), Londrina (Paraná), Guaramiranga (Ceará), Rio das Ostras (RJ) e fiquei impressionada com a organização e com o público.

6) Fora do Brasil, você tem uma carreira sólida. Ainda se sente distante do público brasileiro? Como você lida com isso?

Não me sinto distante do público brasileiro, e a minha carreira também é sólida no Brasil. Faço uma média de 50 a 60 shows por ano no Brasil. Desde 1990 eu realizo temporadas anuais no Mistura Fina, sempre com grande sucesso, tanto que já virou tradição que eu abra a programação da casa, como aconteceu agora mais uma vez, com recorde de público e shows extras. O sucesso continuou por duas semanas de casa superlotada no Bar do Tom. Agora vou fazer show no Teatro da Caixa, em Curitiba, e lecionar na Oficina de Música de Verão promovida pela Universidade Federal do Paraná, dando o mesmo curso de técnica vocal e interpretação que eu ministro nas universidades européias. Depois sigo para São Paulo, onde faço dois shows no Teatro Cosipa antes de viajar para concertos com orquestras sinfônicas na Ásia e, na sequencia, uma turnê de quase dois meses pela Europa a partir de 14 de março. Não posso me queixar de nada.

7) Você foi considerada a terceira melhor cantora de jazz do mundo pela DownBeat, logo atrás de duas cantoras americanas. Como é esse reconhecimento justamente no mercado americano?

É claro que fico feliz e honrada. Mas, como digo sempre, não posso nem irei ficar deslumbrada. Fico feliz por dois dias e depois esqueço. Não canto para ganhar prêmios, não vejo a música como competição. O reconhecimento nos EUA demorou muito, só começou em 2000, com o sucesso do meu sexto CD "Serenade in Blue". Desde então venho sendo apontada entre as melhores cantoras, às vezes em quarto, às vezes em décimo lugar. Em 2008 veio o terceiro lugar na votação da DownBeat, fruto de uma dedicação muito grande ao mercado internacional. Como se trata da revista mais famosa de jazz em todo o mundo, esta eleição tem uma repercussão muito grande. Mas desde 1995 eu apareço nas listas de "melhores do ano" de várias revistas européias e asiáticas. Uma coisa que me surpreendeu mesmo foi ter sido consiederada, agora no final de 2008, uma das melhores cantoras de jazz de todos os tempos no livro "The Jazz Singers - The Ultimate Guide", do historiador Scott Yanow. Ele foi muito rígido na seleção, deixando de fora nomes como Madeleine Peyroux, Norah Jones e Joni Mitchell. Mas a minha biografia está lá, ao lado de Billie Holiday, Ella, Sarah, Carmen McRae, Betty Carter, Flora Purim... Issoi foi uma coisa que realmente me deixou emocionada.

8) Você é elogiada pela crítica devido ao seu timbre, mas também à sua extensão vocal. Manter a voz requer muita disciplina? Como você faz esse trabalho técnico?

Muita. E exige sacrifícios também: vou pouco à praia para não tomar vento, não posso beber gelado, cada vez falo menos ao telefone, e sigo fazendo exercícios vocais pelo menos duas vezes por semana, seja em que país do mundo eu esteja. Mas me divirto muito saindo para dançar, principalmente na Europa, e assistindo shows o elogio que mais gostei de receber aconteceu em 2007, quando o crítico Fred Bouchard, da DownBeat, começou a resenha sobre o "Brazilian Butterfly" escrevendo que eu era "deliciosamente imprevisível". Porque eu nunca me repito. Um ano eu gravo um disco inteiramente acústico cantando somente standards de jazz, em outro misturo bossa nova e drum 'n' bass, depois faço um projeto de baladas ou um disco bem dançante com DJs. O "Brazilian Butterfly", que foi aclamado pela crítica em 2007, só tem uma música americana, do Herbie Hancock. Todas as outras faixas são de autores brasileiros como Dorival Caymmi e Milton Nascimento. Meus fãs amam esta imprevisibilidade porque é uma prova incontestável da minha total liberdade artística, de poder cantar apenas o que eu gosto, sem dever satisfações a ninguém.


9) Morando nos Estados Unidos e visitando o Brasil periodicamente, como você enxerga o cenário musical brasileiro?

Confesso que não dá tempo de acompanhar o cenário musical brasileiro. Claro que tem muita coisa legal acontecendo, ótimos compositores novos surgindo como Rubens Lisboa, Marilene Meira e Jozi Lucka. Mas eu moro em avião! (rsss) Passo apenas uma parte do ano nos EUA, acabei de voltar de uma turnê maravilhosa em dezembro, mas já não aguentava mais o frio de 20 graus negativos. Geralmente eu evito ficar nos Estados Unidos ou na Europa no auge do inverno, mas desta vez não deu para resistir ao convite do Maestro Thiago de Mello para me apresentar com a big-band Amazon, em Nova Iorque, em um concerto comemorativo dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Foi um evento de repercussão mundial.

10) Voltar ao Brasil é uma possibilidade? Sente falta de viver aqui?

Hoje em dia me sinto uma cidadã do mundo. Como diz o Milton, "o artista tem que ir aonde o povo está". Ou seja, aonde ele é chamado. Seja Finlândia, Coréia ou Inglaterra. Faço música universal, para ser apreciada em qualquer parte do planeta, e o Brasil faz parte do mundo. Tenho horror a rótulos e preconceitos. E não chego a sentir falta do Brasil porque volta e meia estou por aqui. Só lamento que exista tanta inveja, tanta fofoca e tanto rancor no meio musical brasileiro.

11) Você é uma das filhas mais ilustres de Niterói, uma cidade considerada bastante musical. Pensa em se apresentar deste lado da baía?

Claro! É só alguém me convidar...

12) Quais são as suas maiores lembranças da cidade?

Adorava o Cinema da UFF. Além de ser perto da minha casa, pois eu morava na Praia de Icaraí, tinha uma programação ótima, alternando novidades e clássicos de Fassbinder, Bergman etc. Lembro demais da Cantina de Capri, também na Praia, das empadinhas de camarão do Caneco Gelado do Mário (no Centro), do Bar do Seu Luiz que eu frequentava quase diariamente, tenho muita saudade dos doces e pães maravilhosos da Padaria Beira-Mar na Rua Moreira César, da lanchonete Matinata e do Steak House, onde terminavam as noitadas. Ia muito à Praia de Itacoatiara, onde passava às vezes um dia inteiro. Vi muito show no Teatro Leopoldo Fróes. Niterói vai morar pra sempre no meu coração.

13) Ithamara, você já fez parcerias musicais com alguns dos maiores nomes da música como Ron Carter, Larry Coryell e Gonzalo Rubalcaba. No Brasil, por exemplo, gravou com Tom Jobim, Hermeto Pascoal, João Donato e Elizeth Cardoso, de quem você sempre se declarou fã. O que ainda falta realizar em sua carreira?

Muita coisa. Porém, paradoxalmente, já me sinto completamente realizada.

14) Depois do sucesso da turnê Brazilian Butterfly, quais são os seus projetos para 2009?

Mais shows e gravações. Quando voltar da turnê européia no final de abril, irei gravar um disco no Brasil. O repertório está sendo testado nestes shows no Rio. O público recebe uma cartela e vota em cinco músicas que gostaria que eu gravasse. Tenho que fazer discos na Ásia e na Europa também. Preciso completar projetos com Dave Brubeck e Rodgers Grant. Estou compondo com o guitarrista japonês Mamoru Morishita e com o tecladista italiano Francesco Gazzara. Fora da área do jazz, tenho muitos convites para trabalhos nos circuitos de dance-music e de música clássica contemporânea, principalmente na Suiça e na Alemanha.