Friday, May 30, 2008

"Todas as Bossas" com Ithamara Koorax - Entrevista "Monitor Campista"


(Ithamara e seus músicos: Haroldo Jobim, José Roberto Bertrami, Jorge Pescara, Marcos Ozzellin)

Entrevista de Ithamara Koorax para o jornal "Monitor Campista", de Campos dos Goytacazes
15 de maio de 2008, Ano 175, Nº 127
Primeira página:
"Noite de Bossa com Ithamara"

Esta noite o público que for ao SESC-Campos poderá conferir o show de Ithamara Koorax (foto), que fará uma apresentação especial no projeto Todas as Bossas, que vem mostrando à cidade um pouco sobre o estilo musical com atrações musicais, de teatro, exposições, performances, entre outras. PÁG. B1
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Com show marcado para hoje, no Sesc-Campos, Ithamara Koorax fala ao Monitor
Danielle Brandão
Com voz e emoções
A bossa nova representa a história de uma gereção de brasileiros que, em sua juventude, acreditaram no futuro e conseguiram realizar o sonho de levar a música nacional aos quatro cantos do mundo. As primeiras manifestações ocorreram na década de 50, com o disco que representa o marco inicial deste movimento: "Canção do Amor Demais", com Elizeth Cardoso, de 1958. Neste mês de maio, o Sesc-Campos faz uma homenagem ao movimento e reedita o projeto "Todas as Bossas".
O público que for ao Sesc esta noite terá a oportunidade de ouvir novamente a qualidade e sensibilidade de uma voz incomparável. Ithamara Koorax, que veio ano passado a Campos participando de um projeto de jazz e blues, retorna à cidade para mais um show, com muita poesia, sensibilidade e emoção para quem gosta de música brasileira.
Dentro da programação do projeto "Todas as Bossas", o show da cantora tem um espaço especial. Vinda de sua turnê pela Europa, Ithamara diz estar muito ansiosa em voltar à cidade e promete um show emocionante para esta noite.
Em entrevista ao Monitor Campista, Ithamara, que acaba de finalizar seu show na Alemanha, diz estar muito feliz com a recepção no páis, e se sente muito feliz ao ver, no público, pessoas que assistiram ao show na turnê européia passada, e retornam, esse ano, levando amigos.
- "É uma sensação muito legal. A cobertura da imprensa também foi espetacular. Além dos jornais locais e das revistas, a DownBeat também colocou uma nota no site", conta Ithamara, eleita, pela revista, a quinta melhor cantora de jazz do mundo.
Num gostoso bate-papo, confira mais um pouco sobre os projetos da cantora, que diz ser uma alegria se apresentar em Campos. "Parece que em Campos sempre rola uma energia muito positiva que contagia a mim, aos músicos e à platéia. O show de 2007 foi particularmente eletrizante", comenta.

- Qual a expectativa de um novo show em Campos?
É sempre uma alegria cantar em Campos. Todos os shows que fiz na cidade até hoje foram, graças a Deus, muito bem recebidos. E, modéstia à parte, eu também fiquei muito satisfeita com as minhas performances. Parece que em Campos sempre rola uma energia muito positiva que contagia a mim, aos musicos e à platéia. O show de 2007 foi particularmente eletrizante e, quando o SESC acenou com a possibilidade de me convidar novamente este ano, para o projeto de bossa nova, eu fiquei nas nuvens.

- Ano passado o público se encantou com seu trabalho. Para o show deste ano o repertório será apenas com músicas do novo cd ou o público terá a oportunidade de ouvir músicas do repertório anterior?
O SESC me pediu um show de bossa nova, então vai ser bastante diferente do show de 2007 que teve standards de jazz, sucessos como "Vôo Sobre o Horizonte" e "Vesti Azul", enfim, foi um show mais pop-jazz. Desta vez estarei revendo a minha trajetória na área da bossa nova. Apesar de não ser uma figura da chamada "geração bossa nova" (eu nem havia nascido quando a bossa surgiu...) e de não ser uma intérprete identificada intimamente com o estilo, eu amo a bossa nova. E mais importante do que isso: tive a benção de trabalhar em shows e gravações com os maiores mestres da bossa. A última gravação de Tom Jobim foi em um disco meu, o "Rio Vermelho", que gravamos em outubro de 1994, três meses antes dele falecer. Tive a honra de ser amiga e vizinha do Luiz Bonfá durante dez anos, fizemos shows juntos, gravamos o CD "Ithamara Sings The Luiz Bonfá Songbook", e ele participou de três discos meus. Também trabalhei muito com Marcos Valle, Edu Lobo e João Donato. Fora isso, gravei dois CDs inteiramente dedicados à bossa nos anos 90: "Wave 2001" em 1996, que foi o primeiro a levar clássicos como "Garota de Ipanema" e "Manhã de Carnaval" para o terreno do acid-jazz. E depois, em 98, gravei em Londres e Nova Iorque o CD "Bossa Nova Meets Drum 'n' Bass", o primeiro com roupagens dançantes para sucessos tipo "Samba de Verão" (que eu ressucitei e depois a Bebel Gilberto gravou se inspirando na minha gravação) e "Minha Saudade", parceria antológica do João Donato com o João Gilberto, um grande incentivador da minha carreira.

- Você vai cantar todas elas no show?
Todas estas músicas vão estar no repertório do show de Campos. Pretendo incluir também "Corcovado", do Tom Jobim, que eu já gravei três vezes, inclusive ao lado de Cesar Camargo Mariano e do grupo Os Cariocas. Muitas delas, aliás, eu acabo de regravar para um novo disco que me foi encomendado pelo mercado japonês para celebrar os 50 anos da bossa. No Brasil, o público de Campos será o primeiro a conhecer os novos arranjos que eu gravei para este projeto que inclui músicas como "Meditação" e "Desafinado". O trio que estará comigo é o mesmo do ano passado, com Haroldo Jobim (ele foi o baterista do famoso trio Fogueira 3), Jorge Pescara (baixista do grupo de Dom Um Romão) e José Roberto Bertrami, tecladista-fundador do grupo Azymuth que já trabalhou também com Elis Regina, Sarah Vaughan, Gal Costa, Tim Maia e Maria Bethania. Viajei com este grupo para a Ásia e para a Europa em 2006 e 2007, já fizemos mais de 200 shows juntos, então temos uma interação telepática. Haverá áinda a participação especial do Marcos Ozzellin, um novo cantor que estou amadrinhando.

- Como foi a excursão na Europa?
Maravilhosa! Foi a minha maior excursão até agora, uma maratona de 28 shows em 40 dias, além de alguns pocket-shows em lojas de disco em países como França, Inglaterra e novamente na Suiça, onde tenho ido com frequencia desde 2005. É incrível como os suiços amam os meus shows e os meus discos! Só desta vez estive em 12 cidades diferentes que eu já conheço como a palma da minha mão, como Luzern, Aarau e Basel. Fiz também o show de encarremento de um festival de jazz e world-music importantíssimo em Stans. Desta vez, o pretexto da excursão foi realizarmos a turnê de lançamento do CD "Obrigado Dom Um Romão", que eu havia gravado em outubro de 2006, em Zurich, com o Peter Scharli Trio, que me acompanhou na maior parte da turnê. Tanto eu como o Peter trabalhamos muito com o Dom Um, um dos maiores bateristas da história da música brasileira e do jazz, um cara que tocou com todo mundo: de Jorge Ben a Frank Sinatra, de Tom Jobim a Marcelo D2. Quando ele faleceu em 2005, resolvemos fazer um disco para homenagea-lo. Na principal revista de jazz da Suiça, a "Jazz 'n' More", o CD recebeu a cotação máxima de 5 estrelas, foi o "disco do mês". Outra coisa muito significativa para mim foi a estréía na Alemanha, onde cantei pela primeira vez no principal clube de jazz do país, o "Unterfahrt" de Munique. Os ingressos para os dois shows estavam esgotados desde janeiro, o público não me deixava sair do palco, o gerente da casa precisou pegar o microfone e mandar o povo ir para casa dormir.

A vibração das pessoas é diferente de cidade para cidade, de país para país?
A vibração muda muito, cada povo tem sua cultura, sua forma de demonstrar contentamento. No Japão, na França e na Finlândia, o público é mais contido, muito respeitoso. Já os coreanos são extrovertidos, aplaudem muito, gritam na hora de pedir bis. Já os ingleses gostam de dançar durante o show, ficam de pé o tempo inteiro, eu me sinto a "Ivete Sangalo do jazz" toda vez que me apresento em Londres...(risos) Os franceses são mais comedidos, enfim, varia bastante. Mas o legal é que são platéias muito "curiosas", ávidas por novidades, sabem que eu sou uma cantora de música universal, então adoram quando eu canto algo tipo "Got To Be Real" ou "Can't Take My Eyes Off You" de uma forma nova e inesperada, não ficam cobrando um show 100% brasileiro.

- Depois deste show em Campos, quais serão os próximos da agenda?
Na próxima semana inicio uma excursão pelo Norte e Nordeste para lançar outro projeto especial, em tributo à cantora Stellinha Egg, considerada a maior intérprete de música folclórica brasileira. Dei uma roupagem jazzística ao repertório dela, que inclui canções maravilhosas de Dorival Caymmi, Pixinguinha e Waldemar Henrique. É um show que eu também gostaria de trazer a Campos no futuro, se o SESC se interessar. Depois, dia 5 de junho, faço um show no Projeto "Sempre Bossa Nova", organizado pelo produtor Leonardo Conde no Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro. Tenho também vários shows em eventos fechados em São Paulo antes de voltar a Europa em julho, e à Ásia em setembro, com shows no Japão, Coréia, Hong Kong e Taiwan. É a Ithamarinha dando a volta ao mundo e morando em avião...(risos)

Ithamara durante concerto com o Peter Scharli Trio no "Stanser Musiktage Festival", na cidade suiça de Stans, onde foi ovacionada.

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