Friday, January 29, 2010

Estadão - "Pérolas da autoria de João Gilberto"

Pérolas da autoria de João Gilberto
Ithamara Koorax e Juarez Moreira reúnem pela primeira vez num único álbum todas as composições do papa da bossa nova


27 de janeiro de 2010, página D6
Lauro Lisboa Garcia - O Estadao de S.Paulo
A VOZ E O VIOLÃO -

Legenda da foto (de Marcos Arcoverde/Agência Estado): "Primoroso trabalho da dupla recebeu elogios rasgados da imprensa especializada no exterior: "Bim Bom tá bombando!"

Ao deparar com o belo Bim Bom - The Complete João Gilberto Songbook, da cantora Ithamara Koorax com o violonista e guitarrista Juarez Moreira, é inevitável se perguntar por que ninguém pensou nisso antes: reunir num só álbum todas as (poucas e boas) 11 composições do papa da bossa nova. Produzido por Arnaldo DeSouteiro, o CD foi gravado em 2008 no Rio, concluído e lançado em outubro de 2009 no exterior. Como não há previsão de sair no Brasil, vale a pena comprar o importado, que está à venda no site www.amazon.com, a partir de US$ 10,60.

Brasileira com prestigiada carreira internacional, mais do que no país de origem, Ithamara diz que "depois de ter trabalhado com gênios como Tom Jobim, Luiz Bonfá, Hermeto Pascoal e João Donato" só faltava se dedicar à obra autoral de João Gilberto. "Não fazendo uma imitação, como tantos e tantas já fizeram, do jeito dele cantar. Mas trazendo à tona a sua criação como compositor, que acabou relegada a segundo plano. Injustamente. Porque, ouvindo uma música como Bim Bom, gravada por ele em 1958, como lado B do 78 rotações que tinha Chega de Saudade, você saca que a estética da bossa nova já estava inteirinha ali."

Para ela, "se a cabeça do João não funcionasse na base do Bim Bom, não teria existido a concepção que ele aplicou às músicas do Tom. Ou seja, não teria existido a bossa nova. Pelo menos não do jeito que a concepção estética do João Gilberto a moldou", explica. "Existe alguma outra lenda viva na música brasileira?", indaga a cantora, na longa entrevista concedida por e-mail ao Estado. Ithamara está em cartaz no Rio, apresentando esse repertório no Bar do Tom (Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon, tel. 21 2274-4022). Os dois últimos shows são sexta e sábado.

Ela diz que tinha vontade de realizar este projeto há muitos anos, mas "foi sendo atropelado por outros". "Canto Hô-Ba-Lá-Lá desde o meu primeiro show como cantora profissional, em 1990, no Rio Jazz Club. Na época, o arranjo era do Paulo Malaguti, meu pianista no início de carreira. Durante esse tempo todo, é claro que o arranjo foi se transmutando, já devo ter cantado esta música de umas 20 maneiras diferentes. E gravei de um jeito diferente do modo como canto atualmente nos shows. Isto é exercer a criatividade, isto é jazz!", diz a cantora.

Juarez já tinha assistindo a um show de Ithamara em 2005 e foi ter com ela depois para elogiá-la. A cantora, por sua vez, já conhecia os discos dele e "sabia que era o violonista mais indicado para gravar este songbook". "Não apenas pela altíssima qualidade dele como músico - o único, no Brasil, que segue a linha de Bonfá e Laurindo, e está no mesmo nível deles -, mas principalmente porque eu soube, através do meu produtor Arnaldo DeSouteiro, que ele era apaixonado pelo João, tocava de cor todas as obras deles. Era fundamental ter, como parceiro, alguém com esse grau de "commitment", de "comprometimento emocional" com o projeto."

Os dois gravaram tudo em dois dias no EG Studios, no Rio, "ao vivo", como se estivessem fazendo um show. "Não houve overdub de voz nem remendo de violão. Os únicos overdubs aconteceram nas músicas em que decidimos usar dois violões ou somar um violão e uma guitarra", afirma a cantora. "Resultou num trabalho muito espontâneo, que vem sendo unanimemente aclamado, com ótimas resenhas no New York Times, na Billboard, na Jazz Times de janeiro, 5 estrelas na Cashbox, enfim, o Bim Bom tá bombando!", festeja.

No encarte do CD, há comentários sobre cada faixa, não só com referências históricas sobre cada tema, mas com um ou outro dado sobre as novas gravações. Clássico pioneiro da bossa nova, Bim Bom é o ponto de partida do CD, mas a primeira composição gravada de João foi Você Esteve com Meu Bem?, por Marisa Gata Mansa em 1953. Outra das mais conhecidas é Hô-Bá-Lá-Lá, que aqui aparece em duas versões, uma delas com letra em inglês, de Aloysio de Oliveira. Minha Saudade (uma das três parcerias com Donato), ela já havia gravado duas vezes, nos CDs Wave 2001 (1996) e Bossa Nova Meets Drum & Bass (1998).

Alternando canções e temas instrumentais, como Um Abraço no Bonfá (solo de Juarez), Ithamara faz vocalises em outras que não têm letra, como Undiú, Valsa (Bebel) e a rara Glass Beads (No Coreto), gravada antes uma única vez por Donato em 1965. A cantora diz que os caminhos harmônicos vieram naturalmente trazidos ou sugeridos por Juarez, "que é um craque". "Em algumas músicas ele se aproximou bastante das gravações do João, no caso das músicas que ele (João) chegou a gravar. Em outras, como as três parcerias com o Donato, o Juarez reprocessou tudo à maneira dele, fez um trabalho genial. A performance dele em Minha Saudade é uma aula de violão!"

A única interpretação que ela diz ter premeditado foi a de Forgotten Places (Coisas Distantes). "Fiquei imaginando como Shirley Horn a cantaria. Por isso, gravamos num andamento bem lento, que me permite saborear cada sílaba", diz a cantora, que está gravando dois novos álbuns simultaneamente, um em Los Angeles, outro em Nova York. "Mas ambos são projetos secretos, como foi o Bim Bom."

VIRTUOSE SIM, MALABARISTA NÃO

ESSENCIAL: Para Ithamara, maior desafio de gravar o álbum foi, como João Gilberto na essência, "fazer o difícil parecer simples, fácil; fazer o que é complexo soar descomplicado, natural. Não bastasse isso, ainda é preciso ser sutil, cantar suavemente, freasear de forma criativa, lidar com alterações rítmicas e sincopado, tudo isso ao mesmo tempo numa fração de segundos. Nem dá tempo de raciocinar. Ou você sabe fazer ou não."

Ela que se derreteu com o elogio de um crítico da DownBeat, que a chamou de "brazilian butterfly" (borboleta brasileira) e disse que ela é "sempre deliciosamente imprevisível", por outro lado alfineta alguns conterrâneos. "Os críticos brasileiros mais limitados adoram dizer que faço malabarismos vocais. Não há afirmação alguma mais equivocada. Paganini, Liszt, Oscar Peterson não eram malabaristas, eram virtuoses. Chick Corea, John McLaughlin, Michel Camilo e Paco de Lucia são virtuoses, não são malabaristas. Pelé, Garrincha, Ronaldinho são virtuoses. O malabarista fica no circo ou no sinal de trânsito", compara. "Sou uma virtuose. Se sustento uma nota agudíssima por longo tempo, se emendo frases sem respirar por mais de um minuto, é porque tenho técnica", defende-se.

"Não preciso fazer esforço para isso. É uma coisa natural. Se precisasse me esforçar e quisesse atrair atenção pela excentricidade, poderia ser chamada de exibicionista. Mas faço isso porque eu sei. Não tenho culpa de ter estudado e continuar estudando, não tenho culpa de ser CDF aplicada. Não tenho culpa do que está na moda no Brasil é justamente não saber cantar ou não ter voz. Exibicionista, pra mim, é cantora que fica coçando saco no palco, cuspindo no público ou se jogando do palco em cima da platéia. Mas isso a mídia acha "muderno"... "
- Lauro Lisboa Garcia
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Versão integral da entrevista:

1. Bem, muita coisa que eu gostaria de saber já está esclarecida no encarte do CD, mas de qualquer forma é curioso por que ninguém pensou nisso antes - reunir as composições de João Gilberto num só álbum? Quando você tomou a decisão? E quando se decidiu imaginou o projeto já para ser com o violão de Juarez?

IK: Existe alguma outra lenda-viva na música brasileira? Depois de ter trabalhado com gênios como Tom Jobim, Luiz Bonfá, Hermeto Pascoal e João Donato, só faltava me dedicar à obra autoral do João Gilberto. Não fazendo uma imitação, como tantos e tantas já fizeram, do jeito dele cantar. Mas trazendo à tona a sua criação como compositor, que acabou relegada à segundo plano. Injustamente. Porque, ouvindo uma música como "Bim Bom", gravada por ele em 1958, como lado B do 78 rotações que tinha "Chega de Saudade", você saca que a estética da bossa nova já estava inteirinha ali. "Chega de Saudade" era avançada para aquela época, chocou todo mundo. Mas o minimalismo de "Bim Bom" ainda era muito mais avançado, muita gente preferiu fingir que não tinha ouvido, porque realmente não conseguiu entender. Tem gente que não entendeu até hoje...(risos) Se a cabeça do João não funcionasse na base do "Bim Bom", não teria existido a concepção que ele aplicou às músicas do Tom. Ou seja, não teria existido a bossa nova. Pelo menos não do jeito que a concepção estética do João Gilberto a moldou.

Conheci João Gilberto através de "Canção do Amor Demais", de Elizeth Cardoso. Meus pais adoravam o disco e eu cresci ouvindo aquelas músicas. Conheço de cor todos os arranjos do Tom Jobim. Por sincronicidade, quando iniciei minha carreira profissional, em 1990, Elizeth se tornou minha madrinha artística. Depois o Tom gravou comigo em 1994. E agora eu celebro meus 20 anos de carreira reverenciando o João!

Tinha vontade de realizar este projeto há muitos anos, mas ele foi sendo atropelado por outros. Eu canto "Hoba-lá-lá" desde o meu primeiro show como cantora profissional, em 1990, no Rio Jazz Club. Na época, o arranjo do "Hoba-lá-lá" era do Paulo Malaguti, meu pianista no início de carreira. Durante esse tempo todo, é claro que o arranjo foi se transmutando, já devo ter cantado esta música de umas vinte maneiras diferentes. E gravei de um jeito diferente do modo como canto atualmemente nos shows. Isto é exercer a criatividade, isto é jazz! "Minha Saudade" eu já tinha gravado duas vezes, nos CDs "Wave 2001" (1996) e "Bossa Nova Meets Drum & Bass" (1998). Além disso, no CD "Obrigado Dom Um Romão", que gravei na Suiça em 2008 e também foi lançado mundialmente, menos no Brasil, gravei várias músicas do repertório do João, inclusive "Aos Pés da Cruz" e "Estate", com uma letra em português feita especialmente para mim pela escritora e novelista Anamaria Moretzsohn.

Juarez já tinha assistindo a um show meu em 2005 e veio me elogiar depois. Eu já conhecia os discos dele e sabia que era o violonista mais indicado para gravar este songbook. Não apenas pela altíssima qualidade dele como músico - o único, no Brasil, que segue a linha de Bonfá e Laurindo, e está no mesmo nível deles - mas principalmente porque eu soube, através do meu produtor Arnaldo DeSouteiro, que ele era apaixonado pelo João, tocava de cor todas as obras deles. Era fundamental ter, como parceiro, alguém com esse grau de "commitment", de "comprometimento emocional" com o projeto. Eu e o Juarez gravamos tudo em dois dias, "ao vivo" no estúdio, como se estivéssemos fazendo um show. Não houve overdub de voz nem remendo de violão. Os únicos overdubs aconteceram nas músicas em que decidimos usar dois violões ou somar um violão e uma guitarra. Resultou num trabalho muito espontâneo, que foi lançado dia 18 de outubro no exterior e vem sendo unanimemente aclamado, com ótimas resenhas no New York Times, na Billboard, na JazzTimes de janeiro, 5 estrelas na Cashbox, enfim, o "Bim Bom" tá bombando!

E eu adoro trabalhar com guitarristas! Larry Coryell tocou junto com o Bonfá no "Almost in Love" e arrasou. A gente se ama. Mas no "Serenade in Blue" eu chamei o Jay Berliner, que eu cresci ouvindo em discos do Charles Mingus e do Milt Jackson, então eu tinha o sonho de tocar com ele. No "Love Dance" o McLaughlin era o cara certo, e ele botou pra foder, fez na música "Man Alone", que dura dez minutos, uma das performances mais geniais que eu já ouvi em toda a minha vida, entrelaçando a guitarra com a minha voz. No "Wave 2001" eu gravei com os cinco melhores guitarristas do Japão. Agora gravei com o Juarez Moreira no "Bim Bom" e tenho excursionado pela Europa com uma nova fera na minha banda, o Rodrigo Lima, que toca violão e guitarra. Então eu adoro essa troca, essa diversão, porque tenho horror à monotonia. O maior elogio que eu já recebi foi de um crítico da DownBeat que começou a resenha sobre o "Brazilian Butterfly" dizendo que eu era uma cantora "sempre deliciosamente imprevisível". Cheguei a ter um orgasmo com essa frase! (rssss)

2. Apesar de alguns especialistas terem destacado e analisado mais atentamente certas composições de João - como "Bim Bom", "Ho-ba-la-la" e "Undiú" - ele nunca foi tão valorizado como compositor, até porque que o violonista e intérprete estão, por motivos óbvios, em maior evidência. Até no livro "Bim Bom", de Walter Garcia, Caetano Veloso comenta que "Bim Bom" é considerada "demasiado simples" e "modesta", mas que essa canção é tão manifesto da bossa nova quanto "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". Enfim, acho que não é o caso de comparar o intérprete com o compositor, mas na sua visão, o que as composições de João têm de mais interessante ou talvez desafiador para uma cantora?

IK: Lauro, vou fazer um "copy & paste" aqui, pq esta explicação detalhada eu dei na entrevista para o site JazzWax (veja abaixo, please). Gostaria apenas de adicionar que o grande desafio foi fazer o mesmo que o João faz na essência: fazer o difícil parecer simples, fácil; fazer o que é complexo soar descomplicado, natural. Não bastasse isso, ainda é preciso ser sutil, cantar suavemente, freasear de forma criativa, lidar com alterações rítmicas e sincopado, tudo isso ao mesmo tempo numa fração de segundos. Nem dá tempo de raciocinar. Ou você sabe fazer ou não sabe.

Os críticos brasileiros mais limitados adoram dizer que eu faço malabarismos vocais. Não há afirmação alguma mais equivocada do que essa. Paganini, Liszt, Oscar Peterson não eram malabaristas, eram virtuoses. Chick Corea, John McLaughlin, Michel Camilo e Paco de Lucia são virtuoses, não são malabaristas. Pelé, Garrincha, Ronaldinho são virtuoses. O malabarista fica no circo ou no sinal de trânsito. Eu sou uma virtuose. Se eu sustento uma nota agudíssima por longo tempo, se eu emendo frases sem respirar por mais de um minuto, é porque eu tenho técnica. Não preciso fazer esforço para isso. É uma coisa natural. Se eu precisasse me esforçar e quisesse atrair atenção pela excentricidade, poderia ser chamada de exibicionista. Mas faço isso porque eu sei. Não tenho culpa de ter estudado e continuar estudando, não tenho culpa de ser uma CDF aplicada. Não tenho culpa do que está na moda no Brasil é justamente não saber cantar ou não ter voz. Exibicionista, pra mim, é cantora que fica coçando saco no palco, cuspindo no público ou se jogando do palco em cima da platéia. Mas isso a mídia acha "muderno"...

Deixando bem claro: NÃO TENHO NADA CONTRA QUEM NÃO SABE CANTAR OU NÃO TEM VOZ. CONTINUEM FELIZES ENGANANDO OS OUTROS. SÓ NÃO QUERO E NÃO ACEITO SER JULGADA COM BASE NUMA INVERSÃO DE VALORES. NÃO ACEITO SER ESCULHAMBADA PORQUE SEI CANTAR, TENHO RECURSOS VOCAIS E NÃO DESAFINO. É UM ABSURDO QUE, NO BRASIL, COMPETÊNCIA E TALENTO TENHAM SE TORNADO MOTIVO DE "PUNIÇÃO".

Agora o que eu falei na entrevista para o site JazzWax: He (Joao Gilberto) is tottaly unique! I don't feel I'm able to translate his whole concept into words. But
it's something magical, that really transcends music. The way his
harmonies move, the way he develops his harmonic changes is unparelled,
remains unmatched. He wrote only 11 songs, at least those were the only ones
that he and other artists previously recorded. And I decided to put all of
them together in one CD. Of course I know that Gilberto has created some
other pieces, some pretty tunes that he calls guitar miniatures. But he says
they are "unfinished business," and would never allow me or anyone else to
record them,
because he is an obsessive perfectionist and considers such unrecorded songs
as mere sketches, not finished songs. There's a lovely instrumental waltz he
played live only once during one of his latest Japanese tours, but it
remains untitled and unpublished. So, I wouldn't bother him insisting to
record it. But I hope he'll do it himself in his next album.

I also would like to add that Gilberto is such a creative interpreter that
he becomes an unofficial "co-author" of any song he choses to sing. He says
that's the reason he never felt compelled to write hundreds of songs was
because he knew hundreds of great songs that already existed and that he
felt that he could improve or re-do on his own way, bringing them to his own
style. Look what he has done with "Estate" for example! Before Gilberto's
recording on "Amoroso", nobody knew of it in the USA. Not even in Italy it
was a popular song. Joao turned it into an universal jazz standard! It's a
proof that he does musical miracles!!! (laughs)

Plus: the song "Bim Bom" was originally recorded in 1958 as the Side B of a
78rpm single that had Jobim's "Chega de Saudade" ("No More Blues") on Side
A. "Chega de Saudade", considered the first bossa nova hit, is beautiful.
But "Bim Bom" was much more intriguing and modern, too much ahead of its
time. That's why most of the people who were not musicians didn't pay
attention to it at that time. They couldn't understand such a "strange
song".
Another wonderful tune, "Voce Esteve Com Meu Bem", was composed in 1953, and
still sounds unbelievably modern.

3. "Você Esteve Com Meu Bem", se não me falha a memória, foi gravada por Mariza Gata Mansa em ritmo de samba-canção e pelo próprio João também, quando ainda empostava a voz à maneira de Orlando Silva. Você e Juarez fizeram algo mais próximo da bossa. Gostaria que você comentasse a decisão sobre essa versão e de outras em que por ventura tenha procurado um caminho diferente do original.

IK: Ao que eu saiba, o João nunca a gravou. Só conheço as gravações da Mariza, em 1953, com arranjo do genial Maestro Gaya, e do Caetano. Não tivemos a preocupação de procurar caminhos diferentes, tudo foi muito espontãneo e natural. Mas é claro que eu já tinha "estudado" as músicas há muito tempo. E o meu método é o seguinte: fico dias e dias ouvindo uma canção até decora-la. Aí passo mais uma semana cantando-a diariamente no meu home studio, do meu jeito, esquecendo a gravação original que eu tinha aprendido. Gravo tudo e vou comparando, pra ver se estou melhorando, se a música está fluindo. Quando eu acho que está legal - e isso pode demorar até dois anos - eu testo a música num show, faço uma surpresa para mim mesma. Levo a partitura pros músicos e digo: "hoje vou cantar essa aqui". Se o resultado me agrada, eu continuo cantando ao vivo e começo a pensar na possibilidade de grava-la. Se eu acho que ainda não chegou a um resultado satisfatório, tiro do repertório e volto ao laboratório.

4. Várias faixas do seu CD ou foram gravadas antes uma vez só, pelo próprio João, ou têm outras gravações muito raras e praticamente desconhecidas. Lembrei-me que Bebel Gilberto disse que foi muita coragem dela gravar "Bim Bom" no ano passado, já que João "tem o jeito dele". Gravar uma canção em que João tenha deixado sua marca é sempre passível de comparação. No caso de as composições serem dele, acho que o peso ainda é maior. Você, como admiradora confessa de João, mas que também tem uma marca de interpretação muito pessoal, teve de alguma maneira a preocupação ou o cuidado de estudar o que ele já tinha feito para encontrar um caminho harmônico diferente?

IK: Não. Os caminhos harmônicos vieram naturalmente trazidos ou sugeridos pelo Juarez, que é um craque. Em algumas músicas ele se aproximou bastante das gravações do João, no caso das músicas que ele (João) chegou a gravar. Em outras, como as três parcerias com o Donato, o Juarez reprocessou tudo à maneira dele, fez um trabalho genial. A performance dele em "Minha Saudade" é uma aula de violão! A única interpretação que eu premeditei foi a de "Coisas Distantes", porque fiquei imaginando como Shirley Horn a cantaria. Por isso gravamos num andamento bem lento, que me permite saborear cada sílaba. Veja como eu canto as frases "namoro ao portão" e "em meu peito aquela agitação", que você vai sacar o que eu quis fazer.

5. Sobre "Bim Bom". Como já tinha dito no e-mail anterior, essa canção ganhou três regravações em 2009 - a sua, a de Bebel e outra de Adriana Calcanhotto, que colocou a batida de samba-reggae do Olodum. Além de ter sido lançada no outro lado de "Chega de Saudade", em 1958, portanto, também é um marco do lançamento da bossa nova, ela dá título a seu álbum. Tom Jobim chegou a usar "Bim Bom" como exemplo da contribuição rítmica da bossa nova. À parte a importância histórica, que observação mais profunda você, que a gravou em ritmo mais acelerado, faria da canção nessa questão da combinação do jogo rítmico entre a voz e o violão?

IK: Acho que o Juarez saberá responder isso melhor. Permita-me apenas uma pequena correção: "Bim Bom" ganhou três lançamentos em 2009. Porque o meu disco foi gravado em 18 e 19 de março de 2008. As gravações de Bebel e Adriana foram feitas depois. Não é opinião, é uma constatação.

6. A curtíssima letra da canção começa com "é só isso o meu baião e não tem mais nada não". Como te falei, no documentário "O Homem Que Engarrafava Nuvens", Caetano Veloso comenta que Gilberto Gil tinha se referido a "Bim Bom" como algo revelador da influência do baião na bossa nova. Depois João compôs "Undiú", que também é um baião. Nos livros consta que ele compôs "Bim Bom" inspirado no ritmo do andar das lavadeiras baianas. Agora, você vê mesmo uma relação da bossa nova com o baião na origem da batida de João?

IK: Lauro, vc está impossível...! Que pergunta difícil! Juarez, me salva... (rssss)

7. Não custa perguntar - João ouviu seu CD?

IK: Claro! Mas isso é segredo. Tenho que respeitar a privacidade do João.

8. Você vem fazer show com esse repertório em São Paulo? Além das canções do CD o que mais do repertório de João tem no show?

IK: Adoraria, mas ainda não fui convidada. No Rio, onde estou em cartaz durante todas as sextas e sábados de janeiro no Bar do Tom, com casa lotada, o repertório muda a cada noite. Estou cantando pela primeira vez músicas como "Smoke Gets In Your Eyes" e "Aviso aos Navegantes". Quando o Miele aparece para dar canja - e ele já me deu esta honra duas vezes -, cantamos juntos "Baubles, Bangles and Beads". Quando ele não vai, eu troco por "Days of Wine and Roses". Tenho incluido também "Human Nature", lançada pelo Michael Jackson no "Thriller", e que eu faço num arranjo bem jazzístico, inspirado na versão do Miles Davis que era apaixonado por esse tema.

9. Como será seu novo álbum? Sai este ano? Aliás, há previsão de lançamento de "Bim Bom" no Brasil? (comprei o CD importado).

IK: Ainda não há previsão de lançamento do "Bim Bom" no Brasil. Estou gravando dois novos discos simultaneamente. Um em Los Angeles, outro em Nova Iorque. Mas ambos são projetos secretos, como foi o "Bim Bom". Quando gravamos o disco, apenas João, Juarez, o produtor Arnaldo DeSouteiro e o engenheiro de som Geraldo Brandão sabiam que se tratava de um songbook do João. Fizemos um pacto de não comentar nada nem com familiares nem com amigos, para não vazar e estragar a surpresa. Gostaria de pedir que você citasse que eu e o Juarez doamos integralmente nossos royalties para o Dizzy Gillespie Fund do Englewood Hospital, de Nova Jersey. Este dinheiro permite o tratamento de músicos que não possuem seguro-saúde e estão necessitados de exames, tratamentos ou internações. É importante revelar isso porque a qualquer hora vai surgir no Brasil um espírito de porco dizendo que eu e o Juarez resolvemos "faturar" na fama do João. E este é um projeto feito por puro amor e admiração, sem a menor intenção de lucro. Nem eu nem o Juarez precisamos disso, temos carreiras e reputações sólidas. "Bim Bom" é fruto unicamente do nosso amor pela obra de João Gilberto.

Monday, January 18, 2010

Bim Bom Tour - "Garota FM" review

http://garotafm.com.br/?p=1590

GarotaFM
Este site é editado por Christina Fuscaldo, jornalista, aspirante a produtora, metida a cantora e, acima de tudo, uma apaixonada por música.

Com técnica vocal perfeita e domínio de palco, Ithamara Koorax rege a plateia do Leblon
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Além de uma técnica vocal perfeita, Ithamara Koorax tem domínio do palco. E é capaz de reger uma plateia usando os olhos e as mãos. A niteroiense que faz mais sucesso no exterior do que no Brasil merece ser designada como uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, como o fizeram os leitores das revistas DownBeat, Swing Journal e Jazz People (ao lado de Diana Krall e Cassandra Wilson). Não importa o que diz a crítica brasileira - com a qual Ithamara tem uma certa diferença. No show que apresenta às sextas e sábados, até o dia 30 de janeiro, no Bar do Tom, no Leblon, a cantora mostra por quê a diversificação do seu repertório não compromete o show, cuja unidade é alcançada através de sua voz, desenvoltura e influência sob o público.

Em “Bim Bom World Tour”, a cantora mescla clássicos com canções do seu 12º álbum, “Bim Bom”, um tributo a João Gilberto. Mas a homenagem bossanovista se dissolve em meio a tantos outros hits. Do repertório do baiano, ela canta poucas. “O Pato”, “Minha Saudade”, uma parceria com João Donato, e “Hó-bá-lá-lá-lá” são algumas delas.

Entre a versão em português de “Human Nature” (Michael Jackson), gravada por Dulce Quental em 1986, e “Smoke Gets in Your Eyes” (The Platters), Ithamara Koorax cantou os temas de Chapeuzinho Vermelho e Dona Baratinha, mostrando que, além de graves e agudos perfeitos, ela sabe fazer vozes estridentes quando quer brincar. O dance “Got To Be Real” (Cheryl Lynn) virou um jazz irreconhecível e “Aviso aos navegantes”, de Lulu Santos, ganhou teclado e baixo jazzísticos e violão e bateria de samba: só não dá para dizer que é “a perfeita bossa nova” porque nesse movimento não há vozes primorosas.

Ithamara Koorax encerrou o show com o tango “El Día Que Me Quieras”, sucesso do argentino Carlos Gardel, e “Mas Que Nada”, de Jorge Ben, que ganhou solo de bateria de Haroldo Jobim. Antes, chamando com os olhos e fazendo gestos sutis com as mãos, conseguiu que as pessoas presentes a acompanhassem em coro em diversas canções. No bis, “Never can say goodbye” e “Garota de Ipanema”.

Saturday, January 16, 2010

"Bim Bom" - Step Tempest review

http://steptempest.blogspot.com/2009/12/three-2009-cds-that-almost-got-away.html

Bim Bom: The Complete João Gilbert Songbook - Ithamara Koorax & Juarez Moreira (Motema)
Posted by CultureCreature
Reviewed by Richard B. Kamins

Voice, acoustic guitar and the music of João Gilberto, who could ask for much more, especially when the vocalist is the highly impressive Ms. Koorax. How best to describe this CD? The words "lovely" and "intensely melodic" easily come to mind. It's so easy to fall under the spell of this short (barely 41 minutes) but ever-so -sweet. Guitarist Moreira is up to the task of playing melodically yet keeping the rhythms flowing on the uptempo tunes, such as the title track and the disk's only purely instrumental piece, "An Embrace to Bonfa."

The hypnotic "Undiu", with its droning low strings and nearly wordless vocals, is one of the finer cuts as is "Valsa (Bebel)", written for Gilberto's oldest daughter (who now is one of the most popular singers from Brazil.) The latter track features an overdubbed guitar solo and has a sound that might have influenced the songwriting of Paul Simon. Moreira overdubs electric guitar on the English language version of "Hô-ba-lá-lá" that closes the program.

Ithamara Koorax has such a fine voice with an easy delivery that rings true throughout the program. Moreira's guitar is the perfect partner, always supportive, with clear, articulated, lines and short pithy solos. João Gilberto's music has rarely sounded better.

Monday, January 11, 2010

"Ithamara Koorax & Leiloca"

O Globo - Segundo Caderno
Coluna "Gente Boa" (Joaquim Ferreira dos Santos)
11 de janeiro de 2010, pág. 2

LEILOCA, à direita, a aniversariante, toca bongô com a cantora Ithamara Koorax na sua festa, semana passada, no Londra, o bar-boate do Hotel Fasano

Thursday, January 7, 2010

Ithamara Koorax & Miele - O Globo

Ithamara Koorax & Elzinha Barroso - JB

Jornal do Brasil, Pág. A16
6 de Janeiro de 2010
Coluna "Anna Ramalho"
Christovam de Chevalier (interino)

BEL CANTO - Em sua volta ao Bar do Tom, que botou gente pelo ladrão, no Leblon, nossa diva internacional Ithamara Koorax recebe Elzinha Barroso. A cantora fica no Rio até o fim do mês.

Ithamara Koorax - Billboard Brasil

Koorax - interview for "Garota FM" website

http://garotafm.com.br/?p=1483

Uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, Ithamara Koorax faz temporada no Rio

Uma das artistas brasileiras de maior sucesso fora do país, Ithamara Koorax vai passar janeiro matando a saudade de casa. A cantora aterrissa no Bar do Tom, onde faz temporada do dia 2 ao 30. Os shows são sempre na sexta e no sábado, exceto neste fim de semana de estreia, no qual ela canta sábado e domingo.

Apresentando o show “Bim Bom World Tour”, a cantora vai mesclar clássicos com canções do seu 12º álbum, “Bim Bom”, um tributo a João Gilberto que ganhou resenhas com boas cotações no jornal New York Times, nas revistas JazzTimes, Cashbox e Billboard e no site All Music Guide. “Human Nature” (Michael Jackson), “Got To Be Real” (Cheryl Lynn) e “Aviso Aos Navegantes” (Lulu Santos) estão no roteiro.

Ithamara Koorax garante que vai oferecer aos cariocas tudo o que ela costuma dar aos seus fãs fora do Brasil. Leia entrevista com a estrela do jazz, eleita, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo pelos leitores das revistas DownBeat, Swing Journal e Jazz People - ao lado de Diana Krall e Cassandra Wilson.

GarotaFM: Por que a decisão de fazer um disco tributo a João Gilberto?

Ithamara Koorax: Conheci João Gilberto através de “Canção do Amor Demais”, de Elizeth Cardoso. Meus pais adoravam o disco e eu cresci ouvindo aquelas músicas. Conheço de cor todos os arranjos do Tom Jobim. Por sincronicidade, quando iniciei minha carreira profissional, em 1990, Elizeth se tornou minha madrinha artística. Depois o Tom gravou comigo em 1994. E agora eu celebro meus 20 anos de carreira reverenciando o João!

A idéia é antiga, apenas foi sendo atropelada por outros projetos. Mas tenho certeza que se concretizou na hora certa e com o parceiro certo, o guitarrista mineiro Juarez Moreira, que também sempre foi apaixonado pelo João. A prova de que acertamos na mosca é o fato do CD estar sendo unanimemente aclamado nos EUA, na Europa e na Ásia, com resenhas maravilhosas no New York Times, nas revistas JazzTimes, Cashbox e Billboard, no All Music Guide etc. E ainda me fez ser votada, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, segundo os leitores da DownBeat.

O João é a última lenda-viva da música brasileira. Depois de eu ter trabalhado com gênios como Tom Jobim, Luiz Bonfá, João Donato e Hermeto Pascoal, era natural que eu me aventurasse pela obra autoral do João - jamais gravaria um tributo ao “João intérprete”, porque seria ridículo tentar imita-lo, inclusive porque várias pessoas já fizeram isso e os resultados sempre foram medíocres.

Pela primeira vez, todas as composições do João estão reunidas em um disco. E, é bom frisar, não é um disco de bossa nova. Tem bossa, mas também tem baião (”Undiú”), valsa (”Bebel”), bolero (”Hoba-Lá-Lá”), samba-canção (”Você Esteve Com Meu Bem?”), latin-jazz (”Acapulco”) etc.

GFM: Como é ser aclamada fora do Brasil e como é sua relação com a crítica brasileira?

IK: Em janeiro de 1990, quando fiz meu primeiro show como cantora profissional, eu era uma ingênua, não acreditava em maldade nem em inveja. O engraçado é que, quando você está começando, todo mundo apóia, dá força. À medida em que você vai progredindo e conquistando espaço, muita gente começa a sentir inveja. E começam as rasteiras, começa um “jogo sujo” muito feio. Meu relacionamento com a imprensa brasileira em geral é excelente, é importante frisar isso. Com grande parte da crítica músical, formada por historiadores veteranos como Tárik de Souza, Roberto Muggiati, Carlos Calado e Sergio Cabral, também. Mas com a turminha de segundo escalão da crítica musical, que está na profissão apenas para usufruir das bocas-livres, beber chope de graça nas estréias e revender nos sebos os CDs que recebe, começa o problema. Este pessoal, recalcado e invejoso, tem verdadeiro ódio de quem faz sucesso no exterior. Infelizmente é uma coisa muito triste, uma atitude ridícula e vergonhosa que prejudica a carreira de muita gente no Brasil, inclusive a minha, porque NADA do que fazemos e conquistamos internacionalmente é noticiado ou valorizado na imprensa nacional.

O Tom Jobim, que passou a vida inteira sendo acusado de “americanizado”, só foi “absolvido” depois que morreu precocemente e de forma trágica. A única outra forma de obter perdão é voltando pobre ou doente para o Brasil. O Sergio Mendes, por exemplo, como fica cada vez mais rico, é cada vez mais odiado aqui, quando deveria ser aclamado como um Pelé da música, como um Ronaldinho. “Bim Bom” não será lançado no Brasil, mas isto não me entristece. Pelo contrário, até dá um alívio porque pelo menos sei que o disco não será esculhambado pela crítica (rssss). É incrível mas, à medida em que meu sucesso aumenta no exterior, a crítica musical carioca mais me trata de forma vil e desrespeitosa. Mas não levo para o lado pessoal. Foi assim com Luiz Bonfá, Laurindo Almeida, Eumir Deodato, Walter Wanderley. Ainda é assim com Sergio Mendes, João Gilberto, Airto Moreira e Flora Purim. Por que seria diferente comigo?

GFM: Como se sente comemorando 20 anos de carreira em palco carioca?

IK: Muito feliz, claro! Amo meu país e adoro cantar no Rio, ainda mais nesta época de férias em que a cidade está repleta de turistas de outras cidades brasileiras. E me sinto plenamente realizada. Sou paga para fazer o que amo, viajo pelo mundo inteiro. Tenho um público fiel, faço uma média de 80 shows por ano, já cheguei a mais de 100 em alguns anos. Gravei e cantei com os meus maiores ídolos: Tom Jobim, Luiz Bonfá, Hermeto Pascoal, João Donato, Ron Carter, Edu Lobo, Martinho da Vila, Larry Coryell, John McLaughlin, Marcos Valle, Sadao Watanabe, Dave Brubeck, Claus Ogerman… Jamais sonhei que iria, um dia, obter um décimo do prestígio mundial que eu conquistei. Pelo segundo ano consecutivo, acabei de ser eleita a terceira melhor cantora na votação dos leitores da DownBeat, que é a “bíblia do jazz”. Há dez anos eu estou entre as dez melhores, não apenas na DownBeat mas também segundo várias outras revistas de jazz no mundo inteiro, então isso me deixa muito contente. O principal crítico dos EUA, Scott Yanow, me incluiu entre as melhores cantoras de todos os tempos, ao lado de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Betty Carter e Flora Purim, no novo livro dele, “The Jazz Singers”. Não posso nem dizer que é a realização de um sonho porque eu nunca imaginei que atingiria este patamar de reconhecimento.

Em 2009, cantei no Rio durante todo o mês de janeiro. Comecei no Mistura Fina, lotadíssimo, com sessões extras, e continuei por mais três semanas de casa igualmente lotada no Bar do Tom. Depois fui pra Ásia, fiz três excursões pela Europa, fui gravar um outro disco nos Estados Unidos, enfim, muita coisa. No exterior, em 2009, foram 47 shows. No Brasil, 35, incluindo várias idas a São Paulo para shows no SESI, no circuito do SESC, no CCBB etc. Mas é normal mesmo que eu faça apenas uma temporada no Rio a cada ano. Ainda mais agora com a agenda cada vez mais lotada no exterior. Em fevereiro eu viajo para nova turnê na Europa, voltando ao Brasil apenas em abril, para shows em São Paulo, Brasília, Curitiba e outras cidades.

GFM: Há alguma diferença entre o show que apresentará no Rio e os shows que costuma fazer fora do Brasil? Por exemplo Lulu Santos entra no repertório lá de fora?

IK: O padrão de qualidade é o mesmo, assim como a minha entrega no palco. Faço cada show como se fosse o último. Esteja eu cantando em Londres, Paris, Gramado ou Ipatinga. Adoro surpreender o público e principalmente a mim mesma. Então só canto músicas que eu gosto. E são muitas, muitas! Eu poderia fazer 100 shows consecutivos sem repetir uma única canção, se fosse necessário. Tenho um repertório imenso, que inclui músicas que eu já gravei e outras tantas que eu nunca cantei em shows. No caso específico de “Aviso aos Navegantes”, que eu a-m-o, nunca cantei nem no exterior nem no Brasil. Mas certamente será mantida na parte internacional da “Bim Bom World Tour”.

GFM: O que você preparou que acha que vai surpreender o público carioca?

IK: Eu não faço show para agradar a crítica brasileira, até porque jamais conseguiria. Canto para agradar ao público. Amo ver e sentir a vibração da platéia se divertindo, cantando junto. Não sou uma esnobe, e muito menos uma pseudo-intelectual. Sou uma entertainer. No Bar do Tom levarei para o palco músicas que eu adoro cantar em casa, mas nunca havia interpretado “ao vivo”. Tenho uma lista de 50 músicas “inéditas na minha voz” e irei selecionando algumas a cada noite.

É um repertório variado, que vai desde “Smoke Gets In Your Eyes”, sucesso do grupo The Platters, até “Days of Wine and Roses”, do Henry Mancini. Quero também voltar a cantar “Got to Be Real”, “Never Can Say Goodbye” e “Human Nature”, gravada pelo Michael Jackson no “Thriller”, mas com uma pegada jazzística a la Miles Davis que eu já cantei nos meus shows nos anos 90. Mas, por favor, não me rotule de cantora eclética porque não faço covers. Todas as músicas são reprocessadas para o “estilo Ithamara Koorax” que me fez ser valorizada e tratada com respeito no mundo inteiro, exceto no Rio de Janeiro.

Ithamara Koorax: sábado e domingo (2 e 3), às 22h. Temporada até 30/01, com shows sextas e sábados. Bar do Tom (Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon – 2274-4022). R$ 60 a R$ 80.

Saturday, January 2, 2010

Ithamara Koorax - Jornal do Brasil "Bênção a João Gilberto"

Jornal do Brasil
Revista Programa
1º a 7 de janeiro de 2010
páginas 16 e 17

JAZZ - ITHAMARA KOORAX
Bênção a João Gilberto
Com novo CD, cantora aproveita para festejar 20 anos de carreira

Phillippe Noguchi

Nome restrito a um seleto público no Brasil, Ithamara Koorax vê sua carreira crescer cada vez mais no exterior: a cantora foi eleita, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores intérpretes de jazz do mundo, de acordo com os leitores da DownBeat, a principal publicação do segmento. Amealhando boas críticas nos EUA, Europa e Ásia, a cantora lança a turnê mundial de seu último disco, "Bim bom", no Rio, neste sábado, no Bar do Tom. O CD celebra os 20 anos de carreira da cantora, com releituras de João Gilberto, o grande homenageado do disco.

- Existe alguma outra lenda viva na música brasileira? Depois de ter trabalhado com gênios como Tom Jobim, Luiz Bonfá, Hermeto Pascoal e João Donato, só faltava me dedicar à obra de João - diz a cantora, que diz não se importar se o grande público ainda não a conhece no Brasil.

- Não faço disco nem show para agradar à crítica brasileira, até porque jamais conseguiria. Canto para agradar ao público, sentir a vibração da platéia, cantando junto. Amo cantar no Rio, ainda mais nesta época em que a cidade está lotada de turistas de várias outras cidades brasileiras.

Além das raras pérolas do mestre da bossa, como Minha Saudade e Obalálá, Ithamara relê temas pop com pegadas jazz, de Michael Jackson (Human nature) a Lulu Santos (Aviso aos navegantes), e músicas de seus CDs anteriores. Em abril, ela volta a cantar pelo Brasil, em Brasília, Curitiba e São Paulo.
ITHAMARA KOORAX - Eleita, pelo segundo ano consecutivo, uma das 3 melhores cantoras de jazz do mundo pela revista Down Beat, ficando atrás apenas de Diana Krall e Cassandra Wilson, comemora 20 anos de carreira em 2010 com o show que estréia no Rio. A apresentação traz o repertório do CD Bim bom, que acaba de lançar nos EUA. Bar do Tom, Rua Adalberto Ferreira 32, Leblon. Cap.: 350 pessoas.
Versão integral da entrevista realizada em 28 de dezembro de 2009:

- Uma homenagem ao "lado compositor" de João Gilberto é a principal marca do show. Como você teve a ideia de resgatar essa face de João?
IK: A principal marca do show, na verdade, é celebrar os meus 20 anos de carreira. Inicio, mais uma vez pelo Rio, uma turnê mundial, que agora se chama "Bim Bom World Tour" por causa do título do novo CD. Em 2009, foram 47 shows no exterior e 35 no Brasil. Em 2010, viajo para nova turnê européia em fevereiro. Depois, Ásia em março. E retomo as viagens pelo Brasil em abril, com shows em Brasilia, Curitiba, São Paulo e outras cidades. Me sinto muito feliz nesta celebração dos 20 anos de carreira. Especialmente comigo mesma. As metas traçadas foram alcançadas, a começar por conseguir fazer uma música universal. Os "presentes" musicais que vieram de surpresa foram mais importantes e valiosos ainda. Toquei e gravei com os meus maiores ídolos: Tom Jobim, Luiz Bonfá, Edu Lobo, João Donato, Hermeto Pascoal, Elizeth Cardoso, Marcos Valle, Tito Madi. O reconhecimento internacional se amplia e se solidifica a cada dia, num processo contínuo de levar minha voz à novas platéias no mundo todo. E tudo isso me mantem apaixonada pela música, sem preconceitos e sem fronteiras. É uma atitude não apenas musical, mas filosófica, cósmica, de colocar o (meu) espírito em sintonia com a energia de todo o universo. Do CD "Bim Bom" cantarei apenas quatro músicas a cada noite, variando pra não cair na repetição. Tipo assim: "Minha Saudade", "Hoba-la-lá", "Acapulco" e "Você Esteve Com Meu Bem?" estarão numa noite. Na outra entram "Bim Bom", "Valsa", "Coisas Distantes" e "Undiú", e assim por diante.
Sobre a decisão de homenagear o João: existe alguma outra lenda-viva na música brasileira? Depois de ter trabalhado com gênios como Jobim, Bonfá, Hermeto e Donato, só faltava me dedicar à obra autoral do João Gilberto. Não fazendo uma imitação, como tantos e tantas já fizeram, do jeito dele cantar. Mas trazendo à tona a sua criação como compositor, que acabou relegada à segundo plano. Injustamente. Porque, ouvindo uma música como "Bim Bom", gravada por ele em 1958, como lado B do 78 rotações que tinha "Chega de Saudade", você saca que a estética da bossa nova já estava inteirinha ali. "Chega de Saudade" era avançada para aquela época, chocou todo mundo. Mas o minimalismo de "Bim Bom" ainda era muito mais avançado, muita gente preferiu fingir que não tinha ouvido, porque realmente não conseguiu entender. Tem gente que não entendeu até hoje...(risos) Se a cabeça do João não funcionasse na base do "Bim Bom", não teria existido a concepção que ele aplicou às músicas do Tom.
A idéia de gravar o Songbook do João era antiga, mas tenho certeza que se concretizou na hora certa e com o parceiro certo, o guitarrista mineiro Juarez Moreira, que também sempre foi apaixonado pelo João. A prova de que acertamos na mosca é o fato do CD estar sendo unanimemente aclamado nos EUA, na Europa e na Ásia, com resenhas maravilhosas no New York Times, nas revistas JazzTimes, Cashbox e Billboard, no All Music Guide etc. E ainda me fez ser votada, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, segundo os leitores da DownBeat. Tudo isso, ignorado pela imprensa brasileira, está documentado no meu blog Brazilian Butterfly: www.ithamarakoorax.blogspot.com Falta apenas colocar o review da JazzTimes, que acaba de sair na edição de janeiro de 2010, chamando o disco de "essencial e histórico".

- E sobre as versões de sucessos pop que vão completar o repertório? Como você as escolheu e de que modo as músicas vão se encaixar no clima da apresentação?
A única coisa previsível nos meus shows é a imprevisibilidade. Como, desta vez, a intenção é celebrar os 20 anos de carreira, entrarão algumas músicas de discos anteriores, como "Un Homme et Une Femme" (do CD "Serenade in Blue", que você resenhou para o Clique Music) e "I Fall in Love Too Easily" (do CD "Autumn in NY"). Isso eu combinei comigo mesma para a estréia. Na noite seguinte posso escolher outras como "Love Dance" e "Iluminada".
Também levarei para o palco músicas que eu adoro cantar em casa, mas nunca havia interpretado "ao vivo". Tenho uma lista de 50 músicas "inéditas na minha voz" e irei selecionando algumas a cada noite.
É um repertório variado, que vai desde "Smoke Gets In Your Eyes", sucesso do grupo The Platters, até "Days of Wine and Roses", do Henry Mancini e "Aviso aos Navegantes", do Lulu Santos. Quero também voltar a cantar "Got to Be Real", "Never Can Say Goodbye" e "Human Nature", lançada pelo Michael Jackson no "Thriller", mas com uma pegada jazzística a la Miles Davis que eu já cantei nos meus shows nos anos 90. E antes que você me classifique como cantora eclética, vou logo negando. Porque não faço covers, transformo essas músicas de acordo com o meu sentimento. Todas adquirem a "sonoridade Ithamara Koorax", o "estilo Ithamara" de interpretar que os preconceituosos tradicionalistas odeiam e as pessoas de mente aberta sempre amam. Ou pelo menos respeitam.

- Verão no Rio combina com jazz? Como o clima da estação mais carioca de todas influencia seu show?
Não faço disco nem show para agradar a crítica brasileira, até porque jamais conseguiria. Canto para agradar ao público. Amo ver e sentir a vibração da platéia se divertindo, cantando junto. Não sou uma esnobe, e muito menos uma pseudo-intelectual. Não sou purista, tenho horror a esse papo velho de "jazz puro", até porque o jazz já nasceu impuro, misturado, se desenvolveu pegando influências da África, da Europa, de Cuba e até do Brasil, através da bossa nova. Sou uma entertainer. Então, no meu caso, o verão do Rio sempre combinou com jazz. Amo cantar no Rio, ainda mais nesta época em que a cidade está lotada de turistas de várias outras cidades brasileiras, o que gera uma energia incrível. A minha primeira temporada como cantora profissional aconteceu exatamente em janeiro de 1990, no Rio Jazz Club, com casa lotada. Desde então escolhi começar o ano cantando no Rio e sempre deu certo. Desde 2000 abri as temporadas anuais do Mistura Fina, inclusive em 2009, novamente com sessões extras e casa lotada, o que, obviamente, nunca foi registrado na imprensa. Desta vez, a festa será no Bar do Tom! E, garanto, com muita sensualidade musical e arranjos deliciosos.

Ithamara Koorax - "R7" interview

http://entretenimento.r7.com/agenda-cultural/agenda-cultural/noticias/ithamara-koorax-uma-melhores-cantoras-de-jazz-do-mundo-faz-temporada-no-rio-20100102.html

Agenda cultural publicado em 02/01/2010 às 08h00:
Ithamara Koorax, uma melhores cantoras de jazz do mundo, faz temporada no Rio
Cantora leva seu tributo a João Gilberto ao Bar do Tom durante os fins de semana de janeiro


Christina Fuscaldo, da Tambor
para R7, portal da Rádio e Televisão Record S/A
Foto: Cafi
Uma das artistas brasileiras de maior sucesso fora do país vai passar janeiro matando a saudade de casa. Ithamara Koorax aterrissa no Bar do Tom neste sábado (2) e domingo (3) e segue com temporada na casa até o dia 30 com shows sempre às sexta e aos sábados. Em entrevista exclusiva ao R7, a cantora fala da carreira, do reconhecimento internacional e da vontade de soltar a voz no Rio.

Apresentando o show Bim Bom World Tour, ela mescla canções do seu 12º álbum – um tributo a João Gilberto – com outras pérolas, como Human Nature (Michael Jackson), Got To Be Real (Cheryl Lynn) e Aviso Aos Navegantes (Lulu Santos).

“O padrão de qualidade é o mesmo, assim como minha entrega no palco. Faço cada show como se fosse o último. Esteja eu cantando em Londres, Paris, Gramado ou Ipatinga. Então, só canto músicas que eu gosto. E são muitas! No caso de Aviso aos Navegantes, que eu a-m-o, nunca cantei nem no exterior nem no Brasil. Mas certamente será mantida na parte internacional da Bim Bom World Tour”, revela.

De João Gilberto, Ithamara não leva ao palco apenas bossas novas, mas outros estilos presentes na discografia do mestre. O baião Undiú, a valsa Bebel, o bolero Hoba-Lá-Lá, o samba-canção Você Esteve Com Meu Bem? e o latin-jazz Acapulco estão no roteiro.

“Pela primeira vez, todas as composições do João estão reunidas em um disco. Conheci João Gilberto através de Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso. Meus pais adoravam o disco e eu cresci ouvindo aquelas músicas. Conheço de cor todos os arranjos do Tom Jobim. Quando iniciei minha carreira, em 1990, Elizeth se tornou minha madrinha artística. Depois o Tom gravou comigo em 1994. E agora eu celebro meus 20 anos de carreira reverenciando o João! A ideia é antiga, apenas foi sendo atropelada por outros projetos. Mas tenho certeza que se concretizou na hora certa e com o parceiro certo, o guitarrista mineiro Juarez Moreira, que também sempre foi apaixonado pelo João. A prova de que acertamos na mosca é o fato do CD estar sendo aclamado nos EUA, na Europa e na Ásia”, comenta Ithamara.

Bim Bom ganhou resenhas com boas cotações no jornal New York Times, nas revistas JazzTimes, Cashbox e Billboard e no site All Music Guide. Em 2009 também, Koorax teve outro feito: foi eleita, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo pelos leitores das revistas DownBeat, Swing Journal e Jazz People - ao lado de Diana Krall e Cassandra Wilson.

“Estou muito feliz, claro! Amo meu país e adoro cantar no Rio, ainda mais nesta época de férias em que a cidade está repleta de turistas de outras cidades brasileiras. Em 2009, cantei no Rio durante todo o mês de janeiro. Comecei no Mistura Fina, lotadíssimo, com sessões extras, e continuei por mais três semanas de casa igualmente lotada no Bar do Tom. Em fevereiro, viajo para nova turnê na Europa, voltando ao Brasil apenas em abril, para shows em São Paulo, Brasília, Curitiba e outras cidades”, antecipa a cantora.

SERVIÇO
Endereço: Bar do Tom - Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon (21) 2274-4022
Horário: sábado e domingo (2 e 3), às 22h. Temporada até 30/01, com shows sextas e sábados.
Preço: R$ 60 a R$ 80

Koorax - interview for "Guia da Semana"

http://www.guiadasemana.com.br:80/Sao_Paulo/Shows/Noticia/Jazz_brazuca.aspx?id=59401
Entrevista concedida por Ithamara Koorax ao website "Guia da Semana" e postada na internet no dia 1º de janeiro de 2010.

Jazz brazuca
Sucesso no exterior, Ithamara Koorax está no Brasil para apresentar seu 12º disco, além de comemorar 20 anos de carreira em 2010


Por Maraísa Bueno
Fotos: Cafi
Ela é filha de poloneses que fugiram da Segunda Guerra Mundial e, como muitos, encontraram uma nova vida no Brasil. Cresceu ouvindo Frank Sinatra, Ella Fitzgeral, João Gilberto e Elis Regina. Em 2010, Ithamara Koorax completa 20 anos de carreira, sendo considerada como uma das melhores cantoras de jazz do mundo, ao lado de Diana Krall e Cassandra Wilson.

No meio dos preparativos para o lançamento de seu 12º disco, Bim Bom, no Bar do Tom, no Rio de Janeiro, a cantora conversou com o Guia da Semana a respeito de sua carreira, trabalhos, parcerias e o sucesso no exterior.

Conte um pouco de sua carreira e como a música, mais especificamente o jazz, entrou em sua vida!
Ithamara Koorax: Minha mãe era cantora lírica, meu pai adorava jazz. Cresci ouvindo Frank Sinatra, Tony Bennett, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Chet Baker. Mas também muita música brasileira, como Elizeth Cardoso, João Gilberto, Elis Regina, Stellinha Egg e Vanja Orico. Sem falar das óperas que minha mãe escutava. Então fui estudar canto, piano, teoria musical e solfejo. Na adolescência descobri o jazz-rock de Chick Corea, Flora Purim, Urszula Dudziak, John McLaughlin, Larry Coryell e tantos outros músicos.

Você faz um sucesso imenso em diversos países. Você acha que a Bossa Nova e o Jazz possuem mais força e sucesso fora do Brasil? Por quê?
Ithamara Koorax: Claro! Mas é natural. O jazz nasceu nos Estados Unidos. E a bossa nova se consagrou lá, de onde foi exportada para o mundo inteiro e até re-exportada (ou re-importada?) para o próprio Brasil, depois que Garota de Ipanema estourou nos Estados Unidos, na gravação de João & Astrud Gilberto com Stan Getz. O problema é que aí começou um segundo surto de ódio (o primeiro foi na época de Carmen Miranda) da crítica musical brasileira em relação aos nossos artistas que começaram a fazer sucesso, mas muito sucesso mesmo, no exterior, como Tom Jobim, Luiz Bonfá, entre outros. Infelizmente é uma coisa muito triste, uma atitude ridícula e vergonhosa que permanece até hoje e prejudica a carreira de muita gente no Brasil, inclusive a minha, porque nada do que fazemos e conquistamos internacionalmente é noticiado ou valorizado na imprensa nacional.

Você está completando em 2010, 20 anos de carreira. O que há de diferente na Ithamara Koorax de 20 anos atrás para a Ithamara Koorax de hoje?
Ithamara Koorax: Ah, muita coisa... (risos) Em janeiro de 1990, quando fiz meu primeiro show como cantora profissional, eu era uma ingênua, não acreditava em maldade nem em inveja. O engraçado é que, quando você está começando, todo mundo apoia, dá força. À medida que você vai progredindo e conquistando espaço, muita gente começa a sentir inveja. O bom é que hoje eu sou uma artista com muita experiência e reconhecimento em um nível internacional. E estou plenamente realizada. Gravei e cantei com os meus maiores ídolos. Jamais sonhei que iria, um dia, obter um décimo do prestígio mundial que eu conquistei. O principal crítico dos Estados Unidos, Scott Yanow, me incluiu entre as melhores cantoras de todos os tempos, ao lado de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Betty Carter e Flora Purim, em seu livro, The Jazz Singers. Não posso nem dizer que é a realização de um sonho porque eu nunca imaginei que atingiria este patamar de reconhecimento.
Há algum momento marcante em sua carreira, que você nunca esqueceu? Conte pra gente!
Ithamara Koorax: São muitos! O dia em que Elizeth Cardoso me adotou como afilhada artística, logo no início da minha carreira em 1990. O dia em que gravei com Tom Jobim em 1994, três meses antes dele falecer. Os primeiros encontros com Baden Powell, Martinho da Vila e Dave Brubeck. O primeiro ensaio na casa de Edu Lobo. Os shows memoráveis com Luiz Bonfá, Dom Um Romão e Marcos Valle. O dia em que Dorival Caymmi me recebeu na casa dele e eu pedi a benção para as músicas dele que eu gravei no disco Brazilian Butterfly. Como diz o Rei (o cantor Roberto Carlos), 'são muitas emoções!'

Por que seu novo trabalho têm o nome Bim Bom? Como foi a produção desse disco? Há músicas inéditas ou regravações?
Ithamara Koorax: Bim Bom é o nome da música do João Gilberto que abre o disco. É um songbook do músico, reunindo, pela primeira vez em um único CD, todas as canções que ele compôs. Eu e o guitarrista Juarez Moreira gravamos tudo em dois dias, "ao vivo" no estúdio, como se estivéssemos fazendo um show. Resultou num trabalho muito espontâneo, que foi lançado dia 18 de outubro no exterior e vem sendo unanimemente aclamado, com ótimas resenhas no New York Times, na Billboard, Cinco estrelas na Cashbox.

O primeiro lançamento aconteceu nos Estados Unidos e você trouxe seu novo trabalho depois para o Brasil. Você quem escolheu fazer o lançamento primeiro lá fora, para depois trazê-lo para o Brasil?
Ithamara Koorax: Não é uma escolha minha, é uma consequência do mercado. Também não é novidade na minha carreira. Desde o meu primeiro CD, Ithamara Ao Vivo (lançado em 1994), todos foram lançados primeiro no exterior e só bem depois chegaram ao Brasil.

Por que o Rio de Janeiro foi escolhido como palco para esse lançamento?
Ithamara Koorax: Porque eu amo cantar no Rio! Ainda mais nesta época do ano, janeiro, quando a cidade está repleta de turistas de outras cidades brasileiras. Minha estreia profissional aconteceu em janeiro de 1990, no antigo Rio Jazz Club. Depois eu abri sempre as temporadas do Mistura Fina e agora estarei celebrando 20 anos de carreira no Bar do Tom, um local que me recebe com muito carinho e tem uma estrutura de produção impecável, comandada pela Fafá Magna.
Há algum cantor que você tem vontade de formar uma parceria? Quem e por quê?
Ithamara Koorax: Tem sim, mas é uma parceria impossível, com o maior cantor de todos os tempos, Frank Sinatra...(risos) E se não for impossível, eu espero que ainda demore muitos anos pra gente se encontrar em outra dimensão.

Qual canção você sempre teve vontade de regravar e conseguiu? Ou há alguma que você ainda tem vontade de colocar em seu repertório?
Ithamara Koorax: Levo para o palco as músicas que eu gosto de cantar em casa. O meu CD de maior sucesso comercial, o Serenade in Blue, que vendeu mais de 250 mil cópias no mundo todo em 2000, tinha o subtítulo de My Favorite Songs exatamente por causa disso. Eram as minhas canções favoritas, tipo Dio Come Ti Amo, The Shadow of Your Smile, Un Homme et Une Femme, Moon River, Aquarela do Brasil, Mas Que Nada, Samba de Verão. Apesar de muito batidas, eu consegui dar a elas uma interpretação pessoal, diferente de todas as gravações existentes. Neste próximo show vou cantar várias músicas que eu adoro de paixão, mas que ainda não gravei, como Human Nature (lançada pelo Michael Jackson em Thriller), Got to Be Real (Cheryl Lynn), Never Can Say Goodbye (Gloria Gaynor), Smoke Gets In Your Eyes (The Platters). Tem uma música do João Gilberto, por exemplo, chamada Hoba-Lá-Lá, que é um bolero que eu canto nos shows há vinte anos, desde 1990, mas que eu só vim a gravar agora no Bim Bom em 2009.

Quais são seus ídolos?
Ithamara Koorax: Tom Jobim, Luiz Bonfá, Elis Regina, Barbra Streisand, Stellinha Egg, Baden Powell, Dorival Caymmi, Dave Brubeck e o Hermeto Pascoal, com quem aprendi que a música é universal.

Você também é compositora? Onde busca inspiração para escrever suas canções?
Ithamara Koorax: Componho raramente e, geralmente, por encomenda. A inspiração vem da pressão mesmo...(risos) E funciona! Agora mesmo fiz três músicas para um CD do guitarrista japonês Mamoru Morishita, uma para a banda italiana Gazzara, duas para a trilha de um filme inglês. Meu maior sucesso como compositora é uma música chamada O Passarinho, feita para a edição italiana do Big Brother. Esta música estourou nas rádios e depois nas pistas de dança em toda a Europa, recebendo nada menos que três remixes diferentes.
Você foi eleita pelo segundo ano consecutivo como uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, pelos leitores das revistas Down Beat, Swing Journal e Jazz People. O que você acha que a fez merecedora ao lado de Diana Krall e Cassandra Wilson?
Ithamara Koorax: Adoro a Diana e a Cassandra, que souberam desenvolver estilos muito pessoais. Eu consegui criar uma "grife Ithamara Koorax de interpretação", que é facilmente identificável e o público internacional adora. Ao mesmo tempo, como disse um crítico da DownBeat, sou "deliciosamente imprevisível". Nunca fiz um disco igual ao outro. Num ano gravo um CD de jazz acústico, no outro faço um de hip-hop, depois me dedico a recriar a obra do Caymmi, agora gravei o songbook do João Gilberto e por aí vai. Sem falar que fui também a primeira pessoa a misturar bossa e batidas eletrônicas dançantes, usando samples e loops, como no CD Bossa Nova Meets Drum 'n' Bass, em 1998, quando ninguém nem sabia o que era drum & bass no Brasil. Gravei até Dave Brubeck em rap! Ninguém nunca sabe o que eu irei aprontar. Nem eu! (risos) E aí é que está a graça da história, porque gosto de aventura, quero sempre surpreender a mim mesma e ao público.

Você acha que falta a divulgação do jazz no Brasil para que novos talentos possam seguir esse estilo musical?
Ithamara Koorax: Falta tudo. Principalmente interesse e respeito da crítica musical pelos artistas, sejam cantores ou instrumentistas, que se dedicam a este estilo. Se a garotada vê pessoas como o Sergio Mendes, o Hermeto (Pascoal) e o Airto (Moreira) serem esculhambados o tempo inteiro, por que iria seguir os passos musicais dessas pessoas? Existem muitos novos talentos sendo desperdiçados porque querem agradar a crítica e se esquecem de agradar o público. E quem compra ingresso é o público.

Quais seus projetos para 2010? Fará turnês pelo Brasil e em outros países?
Ithamara Koorax: Claro! Depois das cinco semanas de shows no Bar do Tom em janeiro, viajo para uma nova turnê europeia em fevereiro, emendo com a Ásia e só volto ao Brasil em abril. Tenho shows marcados até para outubro! Mas, infelizmente, ainda é mais fácil fazer show na Inglaterra, França, Finlândia, Coreia e na Bulgária do que em Porto Alegre, Florianópolis ou Goiânia. Você acredita que eu já cantei duas vezes na Sérvia, mas nunca cantei em Belo Horizonte? É muito ridícula esta situação!

"Ithamara no tom de João Gilberto" - O Globo

Jornal "O Globo"
Revista "Rio Show"
Sexta-feira, 1 de Janeiro de 2010, página 22

SHOWS
Ithamara no tom de João Gilberto
Cantora lança CD em homenagem ao mestre da bossa nova em temporada no Bar do Tom

Rafael Teixeira

Apaixonada por João Gilberto, Ithamara Koorax - dona de uma das mais elogiadas vozes do jazz mundial - reverencia o mestre com o lançamento do disco "Bim bom", em temporada que começa amanhã e segue até o fim do mês, no Bar do Tom.

O disco, no qual ela conta com a parceria do guitarrista mineiro Juarez Moreira, já foi lançada lá fora, onde teve recepção calorosa da crítica.

- A idéia de fazer um disco em homenagem ao João Gilberto é antiga, mas foi sendo atropelada por outros projetos - diz Ithamara.

Além da faixa-título, o repertório inclui "Undiú", "Bebel" e "Hoba-Lá-Lá", entre outras compostas pelo músico. Também estão previstas canções de outros autores.
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> Ithamara Koorax. A cantora apresenta o repertório de seu novo disco, "Bim bom", em homenagem a João Gilberto. Hits como "Aviso aos navegantes", de Lulu Santos, e "Human Nature", de Michael Jackson, também podem aparecer no repertório mutante.
Bar do Tom: Rua Adalberto Ferreira 32, Leblon. R$60 (setores par e ímpar), R$70 (setor A) e R$80 (setor palco). Até 30 de janeiro.
Versão integral da entrevista realizada por Rafael Teixeira em 11 de dezembro de 2009:

1. João Gilberto sempre foi uma referência declarada na sua carreira, mas só agora você dedica um disco inteiramente a ele, este novo "Bim bom"... Por que demorou tanto?

IK: A idéia é antiga, apenas foi sendo atropelada por outros projetos. Mas tenho certeza que se concretizou na hora certa e com o parceiro certo, o guitarrista mineiro Juarez Moreira, que também sempre foi apaixonado pelo João e aprendeu todas as músicas de ouvido, ainda na infância. A prova de que acertamos na mosca é o fato do CD estar sendo unanimemente aclamado nos EUA, na Europa e na Ásia, com resenhas maravilhosas no New York Times, na Cashbox, na Billboard, no All Music Guide etc. E ainda me fez ser votada, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, segundo os leitores da DownBeat. Há dez anos eu estou entre as dez melhores, não apenas na DownBeat mas também segundo várias outras revistas de jazz no mundo inteiro, então isso me deixa muito feliz.

Mas é claro que eu sei que o CD será esculhambado pela crítica brasileira, embora o João seja a última lenda-viva da música brasileira. Depois de eu ter trabalhado com gênios como Tom Jobim, Luiz Bonfá, João Donato e Hermeto Pascoal, era natural que eu me aventurasse pela obra autoral do João - jamais gravaria um tributo ao "João intérprete", porque seria ridículo tentar imita-lo, inclusive porque várias pessoas já fizeram isso e os resultados sempre foram medíocres.
Pela primeira vez, todas as composições do João estão reunidas em um disco. E, é bom frisar, não é um disco de bossa nova. Tem bossa, mas também tem baião ("Undiú"), valsa ("Bebel"), bolero ("Hoba-Lá-Lá"), samba-canção ("Você Esteve Com Meu Bem?"). Algumas músicas são cantadas em português, outras em inglês, muitas são apenas vocalizadas, já que não possuem letras, e "Minha Saudade" tem, pela primeira vez em disco, um solo meu de scat-singing.

2. Você se lembra da primeira vez que ouviu João Gilberto? Como foi que a música dele apareceu na sua vida, e que influências você absorveu dele?

IK: A concepção revolucionária do João chegou a mim através da participação dele no disco "Canção do Amor Demais", de Elizeth Cardoso. Meus pais adoravam o LP e eu cresci ouvindo aquelas músicas. Conheço de cor todos os arranjos do Tom Jobim. Por sincronicidade, ao iniciar profissionalmente minha carreira, em 1990, Elizeth se tornou minha madrinha artística. Depois o Tom gravou comigo, em 1994. E agora eu celebro meus 20 anos de carreira reverenciando o João!

3. Que músicas do disco novo entram neste repertório?

Veja que incrível: "Hobá-Lá-Lá" eu canto desde o meu primeiro show como profissional, exatamente em janeiro de 1990, no antigo Rio Jazz Club. Na temporada no Mistura Fina, em 2009, ela também estava lá, você a ouviu. Era a música com solo do Paulo Marcondes Ferraz nas congas. Durante esse tempo todo, é claro que o arranjo foi se transmutando, já devo ter cantado esta música de umas vinte maneiras diferentes. E gravei de um jeito diferente do que você ouviu no Mistura. Isto é exercer a criatividade, isto é jazz! "Minha Saudade" eu já tinha gravado duas vezes, nos CDs "Wave 2001" (1996) e "Bossa Nova Meets Drum & Bass" (1998).

Ao longo da temporada devo cantar todas as músicas do disco, mas apenas quatro delas a cada noite, para não cair na repetitividade, porque tenho horror à mesmice.

4. E de fora do disco, o que entra no show? Como foi a escolha do repertório?

Eu não faço show para agradar a crítica brasileira, até porque jamais conseguiria. Canto para agradar ao público. Amo ver e sentir a vibração da platéia se divertindo, cantando junto. Não sou uma esnobe, e muito menos uma pseudo-intelectual. Sou uma entertainer. Como sempre faço, vou levar para o palco músicas que eu adoro cantar em casa, mas nunca havia interpretado em shows. Tenho uma lista de 50 músicas "inéditas na minha voz" e irei selecionando algumas a cada noite. É um repertório variado, que vai desde "Smoke Gets In Your Eyes", sucesso do grupo The Platters, até "Aviso aos Navegantes", do Lulu Santos, que eu a-m-o!!!! Quero cantar também "Human Nature", gravada pelo Michael Jackson no "Thriller", mas com uma pegada jazzística a la Miles Davis. Mas não me rotule de cantora eclética, please, porque não faço covers. Todas as músicas são reprocessadas para o "estilo Ithamara Koorax" que me fez ser valorizada e tratada com respeito no mundo inteiro, exceto no Brasil.

5. A última vez que você cantou no Rio, em show solo, foi em janeiro do ano passado, no Mistura Fina?

A última temporada-solo no Rio foi durante todo o mês de janeiro de 2009. Começou no Mistura Fina, lotadíssimo, com sessões extras, e continuou por mais três semanas de casa igualmente lotada no Bar do Tom. Depois fui pra Ásia, fiz três excursões pela Europa, fui gravar um outro disco nos Estados Unidos, enfim, muita coisa. No exterior, em 2009, foram 47 shows. No Brasil, 35, incluindo várias idas a São Paulo para shows no SESI, no circuito do SESC, no CCBB etc. Mas é normal mesmo que eu faça apenas uma temporada no Rio a cada ano. Ainda mais agora com a agenda cada vez mais lotada no exterior. Em fevereiro eu viajo para nova turnê na Europa, devendo voltar ao Brasil apenas em abril.

Ithamara Koorax - Veja Rio "Várias Bossas"

http://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/roteiro/-4778
Roteiro da Semana
Shows - Rafael Sento Sé

Várias bossas
Ithamara Koorax interpreta o repertório
autoral de João Gilberto e pérolas do pop

A cantora: de banquinho e violão a Michael Jackson

Na discografia de João Gilberto, versões para lá de pessoais de canções de terceiros ganharam mais projeção do que suas próprias e escassas composições. Para lançar luz sobre essa faceta autoral da obra do ícone maior da bossa nova, a cantora Ithamara Koorax e banda sobem ao palco do Bar do Tom no sábado (2) e no domingo (3). Parte do repertório vem de Bim Bom - The Complete João Gilberto Songbook, disco lançado em outubro na Europa e ainda sem previsão de chegada ao Brasil. Serão lembradas, entre outras, Bim Bom, Undiú, Bebel e Um Abraço no Bonfá, além de parcerias com João Donato.

A temporada se estende pelas sextas e sábados de janeiro, e a cada noite a intérprete apresentará quatro das onze faixas do álbum. Além das músicas do mestre baiano, Ithamara, mais conhecida no exterior do que no Brasil, vai emprestar sua voz cristalina a canções pop. "Vou mostrar pela primeira vez músicas que eu adoro cantar em casa, como Smoke Gets in Your Eyes, de Jerome Kern, e Aviso aos Navegantes, de Lulu Santos", conta. Outra concessão é Human Nature, do disco Thriller, de Michael Jackson, presente nas apresentações da artista desde 1996. Da seara dos standards americanos, pela qual ela costuma passear com desenvoltura, será lembrada Baubles, Bangles and Beads. "Convidei o Miele para cantar comigo. Nós dois somos apaixonados por essa música", diz.

Ithamara Koorax. 18 anos. Bar do Tom (350 lugares). Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon, 2274-4022. X Sábado (2), 22h; domingo (3), 21h. R$ 60,00 a R$ 80,00. Bilheteria: 9h/22h (seg. a sex.); a partir das 12h (sáb. e dom.). Cd: todos. Estac. c/manobr. www.plataforma.com.
Versão integral da entrevista:

- Ainda não se sabe se Bim Bom vai ser lançado no Brasil. Qual foi seu último disco lançado no país? Quando? Isso te deixa triste?

IK: Meu último CD lançado no Brasil foi o "Tributo a Stellinha Egg" no final de 2008. Fiz uma longa turnê de lançamento, incluindo muitos shows pelos circuitos do SESC de São Paulo (capital e cidades do interior) e Rio de Janeiro (SESC Tijuca, SESC Niterói, SESC São João de Meriti), finalizando com dois shows com lotação esgotada no Teatro SESC Ginástico em março de 2009. No dia seguinte, viajei para a primeira de três excursões européias que realizei ao longo do ano, totalizando 47 shows no exterior e mais de 30 no Brasil. "Bim Bom" não será lançado no Brasil, mas isto não me entristece. Pelo contrário, até dá um alívio porque pelo menos sei que o disco não será esculhambado pela crítica musical (rssss). É incrível mas, à medida em que meu sucesso aumenta no exterior, a crítica musical carioca mais me trata de forma vil e desrespeitosa. Foi assim com Luiz Bonfá, Laurindo Almeida, Walter Wanderley. Ainda é assim com Sergio Mendes, João Gilberto e Flora Purim. Por que seria diferente comigo?

- Na sua opinião, por que a bossa nova tem mais reconhecimento no exterior do que no Brasil?

IK: Porque a sofisticação da bossa nova está "fora de sync" com a estética cultural que impera hoje no Brasil. Não tem nada a ver com os "antenados de Ipanema", com as "celebridades" do BBB, com a glamurização da marginalidade, com as guerras entre traficantes que ocupam os noticiários. Cada época tem a música que merece.

- Você apresenta todas as canções de Bim Bom?

IK: Sim, mas não na mesma noite. Explicando melhor: a cada noite devo cantar três ou quatro músicas do disco, escolhendo outras quatro para o dia seguinte. E depois mais quatro. Tenho mais de 200 músicas no repertório e odeio me repetir. Gosto sempre de surpreender o público e principalmente a mim mesma. Detesto rotina e monotonia. Por isso adoro viajar pelo mundo, ampliando meus horizontes, aumentando meu público.

- Além destas, você apresenta alguma outra? Quais?

IK: Sempre acabam entrando músicas dos discos anteriores, principalmente do "Serenade in Blue" e do "Love Dance" que foram meus discos de maior sucesso no Brasil, me levaram até ao Faustão! E também vou mostrar no palco, pela primeira vez, músicas que eu adoro cantar em casa, como "Smoke Gets in Your Eyes", hit do grupo The Platters, e "Aviso aos Navegantes", do Lulu Santos. Quero incluir ainda o meu arranjo jazzístico para "Human Nature", sucesso do Michael Jackson no "Thriller", que eu canto desde 1996. Não faço show para a crítica. Quero é me divertir e agradar ao publico, oferecendo um espetáculo de alta qualidade musical, igualzinho aos shows que faço em Paris, Londres, Belgrado ou Zurique. A minha entrega é sempre total!

- Quem te acompanha nesta apresentação?

Rapaz, tá uma loucura esta história. Precisei trocar a banda, porque o baixista que tocava comigo há 10 anos se mudou de repente para Portugal, um outro músico adoeceu, enfim, ainda estou fazendo "auditions" (testes) esta semana. Mas isso não me preocupa porque todos os arranjos básicos estão prontos, e pelo menos metade do show é feita de improviso mesmo, no estilo "o maior jazz", literalmente. Então vai dar tudo certo. Sempre dá.

- Está programada alguma participação especial?

Convidei o Paulo Marcondes Ferraz para dar canja tocando percussão. Quero chamar também o Miele para cantar "Baubles Bangles and Beads" comigo, porque já fizemos shows juntos e somos apaixonados por esta música, um grande sucesso do Sinatra.

- Qual é o ponto alto do show?

Não tem...(rssss) Porque cada noite será um show diferente.

- Nesse 20 anos de carreira, quem foi sua grande professora ou onde você teve suas melhores aulas de interpretação?

Aulas de canto eu tenho desde criança, e continuo fazendo aulas até hoje. Todas as professoras foram importantes, cada uma me ensinou alguma coisa valiosa. Isso além das "aulas" que tive e contino tendo ao ouvir Sinatra, Carmen McRae, Tony Bennett, Betty Carter, Flora Purim, Elis, Elizeth e, claro, João Gilberto. Mas isso, para minha carreira no Brasil, foi prejudicial. Aprendi a cantar muito bem, tenho uma técnica fabulosa sem falsa modéstia, uma extensão vocal de quatro oitavas e meia. E, no Brasil, grande parte da crítica confunde "virtuosismo" com "malabarismo". Pelé, Garrincha, Romário são virtuoses do futebol, por isso são chamados de craques. Malabarista é quem fica fazendo embaixadinha no Largo da Carioca. Não tenho culpa de ter voz e de saber cantar, muito menos de ser reconhecida no exterior.

- Tocar na casa do Alberico Campana, de alguma forma, te traz um sabor especial?

Claro, adoro o Alberico, que é um gentleman. A equipe toda do Bar do Tom, comandada pela Fafá Magna, é especial, me trata com muito carinho. Além disso, estou num dos lugares aonde o Tom Jobim mais gostava de ir, e isso aumenta o clima de magia.