Saturday, January 2, 2010

Ithamara Koorax - Veja Rio "Várias Bossas"

http://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/roteiro/-4778
Roteiro da Semana
Shows - Rafael Sento Sé

Várias bossas
Ithamara Koorax interpreta o repertório
autoral de João Gilberto e pérolas do pop

A cantora: de banquinho e violão a Michael Jackson

Na discografia de João Gilberto, versões para lá de pessoais de canções de terceiros ganharam mais projeção do que suas próprias e escassas composições. Para lançar luz sobre essa faceta autoral da obra do ícone maior da bossa nova, a cantora Ithamara Koorax e banda sobem ao palco do Bar do Tom no sábado (2) e no domingo (3). Parte do repertório vem de Bim Bom - The Complete João Gilberto Songbook, disco lançado em outubro na Europa e ainda sem previsão de chegada ao Brasil. Serão lembradas, entre outras, Bim Bom, Undiú, Bebel e Um Abraço no Bonfá, além de parcerias com João Donato.

A temporada se estende pelas sextas e sábados de janeiro, e a cada noite a intérprete apresentará quatro das onze faixas do álbum. Além das músicas do mestre baiano, Ithamara, mais conhecida no exterior do que no Brasil, vai emprestar sua voz cristalina a canções pop. "Vou mostrar pela primeira vez músicas que eu adoro cantar em casa, como Smoke Gets in Your Eyes, de Jerome Kern, e Aviso aos Navegantes, de Lulu Santos", conta. Outra concessão é Human Nature, do disco Thriller, de Michael Jackson, presente nas apresentações da artista desde 1996. Da seara dos standards americanos, pela qual ela costuma passear com desenvoltura, será lembrada Baubles, Bangles and Beads. "Convidei o Miele para cantar comigo. Nós dois somos apaixonados por essa música", diz.

Ithamara Koorax. 18 anos. Bar do Tom (350 lugares). Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon, 2274-4022. X Sábado (2), 22h; domingo (3), 21h. R$ 60,00 a R$ 80,00. Bilheteria: 9h/22h (seg. a sex.); a partir das 12h (sáb. e dom.). Cd: todos. Estac. c/manobr. www.plataforma.com.
Versão integral da entrevista:

- Ainda não se sabe se Bim Bom vai ser lançado no Brasil. Qual foi seu último disco lançado no país? Quando? Isso te deixa triste?

IK: Meu último CD lançado no Brasil foi o "Tributo a Stellinha Egg" no final de 2008. Fiz uma longa turnê de lançamento, incluindo muitos shows pelos circuitos do SESC de São Paulo (capital e cidades do interior) e Rio de Janeiro (SESC Tijuca, SESC Niterói, SESC São João de Meriti), finalizando com dois shows com lotação esgotada no Teatro SESC Ginástico em março de 2009. No dia seguinte, viajei para a primeira de três excursões européias que realizei ao longo do ano, totalizando 47 shows no exterior e mais de 30 no Brasil. "Bim Bom" não será lançado no Brasil, mas isto não me entristece. Pelo contrário, até dá um alívio porque pelo menos sei que o disco não será esculhambado pela crítica musical (rssss). É incrível mas, à medida em que meu sucesso aumenta no exterior, a crítica musical carioca mais me trata de forma vil e desrespeitosa. Foi assim com Luiz Bonfá, Laurindo Almeida, Walter Wanderley. Ainda é assim com Sergio Mendes, João Gilberto e Flora Purim. Por que seria diferente comigo?

- Na sua opinião, por que a bossa nova tem mais reconhecimento no exterior do que no Brasil?

IK: Porque a sofisticação da bossa nova está "fora de sync" com a estética cultural que impera hoje no Brasil. Não tem nada a ver com os "antenados de Ipanema", com as "celebridades" do BBB, com a glamurização da marginalidade, com as guerras entre traficantes que ocupam os noticiários. Cada época tem a música que merece.

- Você apresenta todas as canções de Bim Bom?

IK: Sim, mas não na mesma noite. Explicando melhor: a cada noite devo cantar três ou quatro músicas do disco, escolhendo outras quatro para o dia seguinte. E depois mais quatro. Tenho mais de 200 músicas no repertório e odeio me repetir. Gosto sempre de surpreender o público e principalmente a mim mesma. Detesto rotina e monotonia. Por isso adoro viajar pelo mundo, ampliando meus horizontes, aumentando meu público.

- Além destas, você apresenta alguma outra? Quais?

IK: Sempre acabam entrando músicas dos discos anteriores, principalmente do "Serenade in Blue" e do "Love Dance" que foram meus discos de maior sucesso no Brasil, me levaram até ao Faustão! E também vou mostrar no palco, pela primeira vez, músicas que eu adoro cantar em casa, como "Smoke Gets in Your Eyes", hit do grupo The Platters, e "Aviso aos Navegantes", do Lulu Santos. Quero incluir ainda o meu arranjo jazzístico para "Human Nature", sucesso do Michael Jackson no "Thriller", que eu canto desde 1996. Não faço show para a crítica. Quero é me divertir e agradar ao publico, oferecendo um espetáculo de alta qualidade musical, igualzinho aos shows que faço em Paris, Londres, Belgrado ou Zurique. A minha entrega é sempre total!

- Quem te acompanha nesta apresentação?

Rapaz, tá uma loucura esta história. Precisei trocar a banda, porque o baixista que tocava comigo há 10 anos se mudou de repente para Portugal, um outro músico adoeceu, enfim, ainda estou fazendo "auditions" (testes) esta semana. Mas isso não me preocupa porque todos os arranjos básicos estão prontos, e pelo menos metade do show é feita de improviso mesmo, no estilo "o maior jazz", literalmente. Então vai dar tudo certo. Sempre dá.

- Está programada alguma participação especial?

Convidei o Paulo Marcondes Ferraz para dar canja tocando percussão. Quero chamar também o Miele para cantar "Baubles Bangles and Beads" comigo, porque já fizemos shows juntos e somos apaixonados por esta música, um grande sucesso do Sinatra.

- Qual é o ponto alto do show?

Não tem...(rssss) Porque cada noite será um show diferente.

- Nesse 20 anos de carreira, quem foi sua grande professora ou onde você teve suas melhores aulas de interpretação?

Aulas de canto eu tenho desde criança, e continuo fazendo aulas até hoje. Todas as professoras foram importantes, cada uma me ensinou alguma coisa valiosa. Isso além das "aulas" que tive e contino tendo ao ouvir Sinatra, Carmen McRae, Tony Bennett, Betty Carter, Flora Purim, Elis, Elizeth e, claro, João Gilberto. Mas isso, para minha carreira no Brasil, foi prejudicial. Aprendi a cantar muito bem, tenho uma técnica fabulosa sem falsa modéstia, uma extensão vocal de quatro oitavas e meia. E, no Brasil, grande parte da crítica confunde "virtuosismo" com "malabarismo". Pelé, Garrincha, Romário são virtuoses do futebol, por isso são chamados de craques. Malabarista é quem fica fazendo embaixadinha no Largo da Carioca. Não tenho culpa de ter voz e de saber cantar, muito menos de ser reconhecida no exterior.

- Tocar na casa do Alberico Campana, de alguma forma, te traz um sabor especial?

Claro, adoro o Alberico, que é um gentleman. A equipe toda do Bar do Tom, comandada pela Fafá Magna, é especial, me trata com muito carinho. Além disso, estou num dos lugares aonde o Tom Jobim mais gostava de ir, e isso aumenta o clima de magia.

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