Friday, February 6, 2009

Diva do jazz é brasileira - "Chiques & Famosos"

Revista "Chiques & Famosos"
Ano II, Nº 11
6 de fevereiro de 2009
Pág. 6 - Sumário
Spot: o jazz de Ithamara Koorax no Brasil
Pág. 43 - VERBO
A Palavra das Celebridades
VOZ EXPORTAÇÃO
Sucesso nos EUA, a cantora brasileira de jazz, Ithamara Koorax, fala de sua aplaudida carreira e de seu estilo inconfundível.
Diva do jazz é brasileira
A crítica musical norteamericana elegeu as três melhores intérpretes desse gênero. E uma delas é Ithamara Koorax
Por Décio Piccinini
Mas o sucesso não é novidade para a cantora que depois de gravar muitos temas para novelas globais, decidiu botar o pé na estrada e abalar o planeta com seu jeitão peculiar de cantar. De tudo... É aplaudida e homenageada como fenômeno da música. Isso a ponto de conquistar até a crítica musical dos Estados Unidos que, quando se trata de jazz, pode ser bastante radical, quase protecionista. Por isso, para um músico ou intérprete de outro país ter seu talento reconhecido, precisa ser extraordinário. Algumas poucas cantoras brasileiras fizeram história por lá, atrevendo-se a cantar jazz. Nomes como Flora Purim, Leny Andrade e agora, Ithamara Koorax.
Versão integral da entrevista concedida por Ithamara Koorax ao jornalista DécioPiccinini

1. No Brasil, ser, ou não, a melhor cantora do país, pouco significa em termos de realização financeira. E nos Estados Unidos? Como é a vida da terceira melhor cantora de jazz do mundo? Muita grana, mil empresários implorando sua assinatura em contratos milionários, limusines, altas badalações? Ou não é tudo isso?

IK: É e não é. Dentro dos Estados Unidos, seja para shows ou gravações, realmente sempre colocam limusine à minha disposição. E não é de hoje não. Na primeira vez que eu fui a trabalho para Nova Iorque, em 1991, o produtor Creed Taylor colocou uma limo a minha disposição durante dez dias. Na Ásia também rola essa mordomia, especialmente no Japão e na Coréia, onde recebo tratamento de pop-star condizente com a minha colocação no mercado. Afinal, desde 2000 eu não canto em clubes de jazz, só faço grandes concertos para uma media de 5 mil pessoas em grandes teatros ou ao ar livre. Quando estou em Nova Iorque ou Los Angeles, é difícil ficar alguma noite sem ir a uma festa badalada. Na Europa também, mas os deslocamentos durante as turnês é menos glamuroso, geralmente de trem, porque as cidades são muito próximas, então não compensa ir de avião por causa do tempo que se gasta em aeroporto. Mas os trens são maravilhosos, especialmente na primeira-classe e dentro da Suiça, onde irei fazer 12 shows agora na próxima turnê que começa dia 14 de março e vai até final de abril.

2. Não é incorreto rotulá-la como intérprete de jazz já que você canta de tudo? Há quem diga que sua definição como cantora de jazz não é correta, uma vez que tanto em discos como em shows, você flerta também com samba, com bossa e outros ritmos. Ora, a Diana Krall canta "I've Got You Under My Skin" com batida de bossa e com a introdução daquele bolero, "Contigo En La Distancia", sem que ninguém reclame. Você acha que essa mania de querer classificar tudo, separar as coisas, de querer tudo rotuladinho é mania de brasileiro?

IK: Eu nunca me auto-rotulei como cantora de jazz. Quem colocou esse carimbo foi a crítica internacional. E quando os maiores jornalistas e historiadores de jazz me definem dessa maneira - pessoas como Ira Gitler, Thom Jurek, Fred Brouchard, Frank-John Hadley e Scott Yanow -, eles devem saber o que estão falando. O Scott, aliás, acabou de me incluir entre as maiores cantoras da história do jazz no novo livro dele, "The Jazz Singers: The Ultimate Guide", tendo deixado de fora Madeleine Peyroux, Norah Jones e Joni Mitchell. Eu vou reclamar? Eu fico é feliz!!! Mas é óbvio que eu não canto apenas jazz. Já gravei dez temas para trilhas de novelas da TV Globo que não têm nada a ver com o jazz. Meu trabalho na área da dance-music, que desenvolvo na Europa desde 1994, já gerou vários Top 10 Hits em Ibiza e mais de cinquenta remixes feitos por DJs como Tom Novy, Parov Stelar e Tetsuo Shibuya. No mundo todo,inclusive no Brasil, volta e meia faço concertos de música clássica com orquestras sinfônicas. Não aceito limitações e não quero me prender a um estilo.

3. Toniquinho, baterista da Jazz Sinfônica, diz que, salvo raras exceções, o brasileiro nasce surdo de um ouvido e com uma banana enterrada no outro. É isso mesmo?

IK: Adoro o Toniquinho, com quem tive o prazer de tocar no lindo concerto que fiz com a Orquestra Jazz Sinfônica em 2005, mas não concordo com ele. A platéia brasileira é a mais musical e calorosa do mundo.

4. Quando assinou contrato com a gravadora Som Livre, você foi cantar no Faustão. Era para cantar duas músicas. O Ibope subiu, o sucesso foi tanto que você ficou mais de 20 minutos lá. Só que isso aconteceu uma vez. Você acha que isso se repetiria se voltasse na semana seguinte?

IK: Se eu fosse convidada para ir ao Faustão uma vez por mês, como acontece com alguns artistas, eu seria uma das cantoras de maior popularidade no Brasil, mesmo sem cantar axé ou sertanejo. Não tenho dúvida alguma! Outra coisa: quem inventou essa bobagem de me classificar como "elitista" foi a crítica brasileira, que vive chamando o povo de burro. E nenhuma das duas coisas é verdade. Meu som não é elitista nem o público é burro.

5. Você concorda com quem acha que brasileiro, às vezes, até gosta de música boa, mas... reage?

IK: No meu caso, felizmente reage aplaudindo muito. A crítica é que fica enlouquecida quando vê alguém que eles não consideram "popular" fazendo sucesso, lotando todos os shows. É uma velha e ultrapassada mania de esnobismo. Enquanto isso eu sigo em frente, fazendo uma média de 80, 90 shows por ano. E todos lotados, em qualquer lugar do Brasil ou do mundo. Não faço "jazz de museu", não sou tradicionalista, e por isso as pessoas gostam tanto dos meus shows, mesmo as que não são fanáticas por jazz.

6. Cada vez que se publica alguma coisa sobre você, fala-se da influência que sofreu de Flora Purim. Eu ouço uma, depois a outra e não vejo influência alguma. Tem?

IK: Tem sim. Talvez você tenha ouvido apenas os trabalhos mais recentes da Flora. Mas os discos que me influenciaram foram os que ela gravou nos anos 70, quando a estética dela era completamente diferente da atual.

7. Não é raro vê-la se apresentando em pequenas cidades do interiorzão do Brasil. Seguramente, nesses locais você não ganha os cachês que receberia em Berlim, Tóquio ou Nova York. Então, você faz essas apresentações para não perder o pé em nossa realidade, para que esse povo possa tomar contato com música de verdade, enfim, por que?

IK: Exatamente por essas razões que você citou. As minhas "férias" são passadas excursionando pelo interior do Brasil, geralmente a convite do SESC, que desenvolve este trabalho maravilhoso de subsidiar shows para uma platéia que não teria acesso de outra maneira. Claro que o cachê é menor, mas a minha alegria é a mesma ou até maior ao ver as pessoas trazendo discos para eu autografar e me tratando com muito carinho.

8. Qual é seu ideal de diversão?

IK: Dançar e namorar muuuuuito!

9. Como foi a sua ida para o exterior? Como aconteceram as primeiras oportunidades por lá?

IK: Eu nunca decidi sair do Brasil. A internacionalização da minha carreira aconteceu naturalmente, foi um processo orgânico, nada foi premeditado. Os convites para shows e gravações foram surgindo primeiro na Ásia, depois na Europa e finalmente nos EUA depois de 2000. E na verdade eu nunca deixei o Brasil, até hoje passo grandes períodos aqui. Em 2005 eu fui contratada pelo Sofitel para reinaugurar o Horse's Neck Jazz Bar, em Copacabana. Eles me trouxeram de Los Angeles e eu fiz uma temporada de três meses, com casa lotada diariamente. Voltei em 2006 e fiquei em cartaz quatro meses. Eu viajo pelo Brasil todo, já cantei na Bahia, no Acre, no Pará, em Alagoas, Piauí, Amapá, Sergipe, Ceará, e sou sempre muito bem recebida. As pessoas conhecem meus discos, principalmente as gravações para as dez trilhas de novelas da Globo, e lotam os shows. Isso é muito legal porque mostra que o público brasileiro não me esquece, mesmo que eu fique metade do ano no exterior. Hoje vivo em avião. Passo um bom tempo em Los Angeles e Nova Iorque, agora aluguei também um apartamento em Lucerna, na Suiça, para servir de base para as duas turnês anuais que faço pela Europa. E procuro vir ao Brasil sempre que possível, aceito todos os bons convites para shows que aparecem, pois amo o meu país e o meu povo, adoro cantar aqui. Eu nunca me distanciei da minha terra.

10. Com essa crise econômica, como o povo dos vários países onde você se apresenta está reagindo? As platéias estão ficando reduzidas?

IK: Por enquanto não noto diferença, pelo contrário. Acabei de realizar duas temporadas superlotadas em janeiro, no Rio de Janeiro, no "Mistura Fina" e no "Bar do Tom". Precisei fazer até shows extras! Agora estou indo em fevereiro para a Ásia, depois de shows em Curitiba e São Paulo. Em meados de março começa nova turnê pela Europa, e muitos concertos estão já com ingressos esgotados. É bom lembrar que, enquanto a vendagem de CDs caiu assustadoramente em 2008 no mundo todo, as receitas com shows aumentaram bastante. Dentro desta nova realidade, fazer shows é muito mais importante do que lançar discos. Até o Elton John já falou isso.

11. Quando o público pede uma música sua que não está programada, você atende?

IK: Geralmente sim, porque tenho mais de 200 músicas ensaiadas com minha banda. É só procurar a partitura.

12. Qual a música que você tem de cantar - em suas apresentações - caso contrário sai briga. É "Serenade in Blue" ou alguma daquelas de telenovelas como "Cristal" e outras?

IK: Depende do contexto do show. No Brasil, as músicas mais pedidas são geralmente "Iluminada", que é uma obra de Chopin com letra do Aldir Blanc e foi tema da mini-série "Riacho Doce", e "Disritmia", do Martinho da Vila, que eu nunca gravei mas virou um "clássico" do meu repertório. Na Ásia, cantar "Manhã de Carnaval", de Luiz Bonfá e Antonio Maria, que eu gravei em 1996, é uma cláusula contratual. Na Europa pedem muito "Un Homme et Une Femme", "Bye Bye Blackbird" e "I Fall in Love Too Easily".

13. Fale de seu dia-a-dia.

IK: Muito trabalho, muita dieta e muita ginástica! Vivo em dieta...(rsss) Adoro doces e é difícil me controlar, principalmente nas turnês e quando está muito frio, abaixo de zero. Continuo fazendo aula de canto e também pratico sozinha pelo menos uma hora por dia. Gosto de nadar e de fazer Pilates.

14. Você se ligaria sentimentalmente a alguém que não tivesse a menor percepção musical?

IK: Jamais. Não por preconceito, mas porque faltaria uma coisa essencial no relacionamento. Curtir música sozinha não teria a menor graça.

15. Para conseguir viver razoavelmente de música, só mesmo em outros países?

IK: Acho que não. Tem dezenas de artistas milionários no Brasil, não tem?

16. Na capa do álbum "Rio Vermelho", você se deixou fotografar toda sexy. Depois, isso não aconteceu mais. Por que? Você acha que demonstrar sensualidade prejudica o conceito de "seriedade musical"? Se fosse assim, pobres das pernas de Diana Krall e Julie London.

IK: Eu não acho que prejudique, mas os japoneses acharam. Tanto que, quando o "Rio Vermelho" foi lançado lá, em 1995, fizeram uma nova foto para a capa, para passar uma imagem mais "séria". A princípio eu fiquei chateada, porque adoro aquela foto sensual feita pelo Livio Campos. Mas depois tive que concordar com eles, porque o disco chegou ao Top 10 e vendeu muito, além de ter sido aclamado pela crítica. Depois eles ficaram mais liberais, tanto que não mudaram a capa do "Love Dance" (de 2003), que também é sensual.
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SHOWS
por Patrícia Morgado
Ithamara Koorax presenteia paulistanos

Considerada a terceira melhor cantora de jazz do planeta, Ithamara Koorax retorna a São Paulo e se apresenta no próximo dia 11 de fevereiro no Teatro Cosipa Cultura, zona sul da capital paulista. Após passar pelo Rio de Janeiro e fazer uma aclamada turnê pelos Estados Unidos, a cantora brasileira interpreta as canções de "Brazilian Butterfly", seu último album. Dividindo a cena com o pianista e maestro José Roberto Bertrami, ela embala os fãs com sucessos como "Meditação", "Autumn in New York", "Manhã de Carnaval", "I Fall in Love Too Easily", "Se Queres Saber" e "Pigmalião 70". Depois de São Paulo, a estrela faz shows no Japão, Coréia e Europa.

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