Wednesday, September 24, 2008

IK, entrevista - "Rasante Na Boa Música"

Jornal "Monitor Campista"
23 de Setembro de 2008 - Campos dos Goytacazes
Caderno "Mais Cultura"
chamada de capa: Depois de dois shows recentes em Campos, a cantora e compositora Ithamara Koorax volta ao município hoje, no projeto Choro & Cia.
ENTREVISTA - Página B1
Alicinéia Gama

Rasante Na Boa Música
Ela queria ser aeromoça, mas, para sorte dos apreciadores de música, Ithamara Koorax tornou-se uma das maiores cantoras de jazz do mundo

Em 18 anos de carreira profissional, a cantora e compositora Ithamara Koorax conseguiu alçar vôos altos. Está entre as quatro melhores cantoras do mundo (eleita pela revista DownBeat), tem uma discografia que reune mais de 60 títulos, incluindo projetos especiais, songbooks, compilações, trilhas sonoras para cinema e novelas da Globo. "Sempre me senti cantora, mas teve uma fase, na adolescência, em que queria ser aeromoça! Hoje, como eu vivo em avião, também realizei o sonho de estar sempre voando...", brinca a artista, que aterrissa hoje em Campos, no Teatro Trianon, para o projeto Choro & Cia. Tendo a simpatia como marca registrada, Ithamara, botafoguense e do signo de Touro, é uma mulher que vive e respira música 24 horas por dia.

BATE-PAPO

Depois de se apresentar em dois eventos promovidos pelo Sesc (2007 e 2008), você volta a Campos num projeto de Choro e MPB. Como será este seu show em termos de repertório? Alguma novidade?
Minhas últimas apresentações em Campos foram em festivais de jazz e bossa nova do SESC. Então, procurei focar o repertório nesses dois estilos. Desta vez vou colocar um pouco de tudo, fazer um pequeno resumo da minha carreira. Vou mostrar também músicas de dois novos discos: "Obrigado Dom Um Romão", lançado nos EUA em agosto, e que é uma homenagem ao grande baterista brasileiro que trabalhou muito comigo e também com Frank Sinatra, Tony Bennett e Tom Jobim; e "Tributo á Stellinha Egg", dedicado ao repertório da maior cantora folclórica da história da música brasileira.

Você segue algum tipo de ritual/costume antes de entrar no palco?
Gosto de meditar um pouco e rezar, fazendo uma corrente de união com os músicos. Mas nada muito demorado porque, senão, tira a adrenalina.

E quem são os músicos que virão com você?
Meu fiel e maravilhoso trio brasileiro, formado por José Roberto Bertrami nos teclados, Jorge Pescara no baixo e Haroldo Jobim na bateria. Bertrami é também o líder do grupo Azymuth e acaba de voltar de uma turnê pelos Estados Unidos e Europa. Terei ainda a canja do cantor Marcos Ozzellin, cujo disco de estréia eu estou produzindo.

Como lida com o rótulo de estar entre as 5 melhores cantoras de jazz do mundo?Muita coisa mudou em sua vida após este título?
Fico muito feliz com este tipo de reconhecimento. Mas não devo nem jamais irei ficar "deslumbrada". É claro que a popularidade aumenta, mas também aumenta a cobrança, a expectativa do público. Por isso cada vez eu estudo mais, continuo tendo aulas de canto semanalmente, ou faço exercícios vocais sozinha durante as viagens para me manter em forma. Em termos de mercado, eu decidi me concentrar mais na carreira no exterior em 2008. Aceitei todos os convites para shows e workshops. Fiz duas longas turnês pela Europa, acabei de voltar do festival de jazz de Camden Town em Londres, e em novembro vou para a Ásia. Fiz shows com big-bands, orquestras sinfônicas e até com DJs, por conta de uma música minha, "O Passarinho", que estourou no mercado europeu de dance-music depois de virar tema do Big Brother italiano, "La Pupa e Il Secchione". Não podia esnobar esta demanda, então acabei fazendo um número bem menor de shows no Brasil do que nos anos anteriores.

Você sempre quis ser cantora ou chegou a pensar em outras profissões?
Sempre me senti cantora. Mas teve uma fase, na adolescência, em que queria me tornar aeromoça! Hoje, como eu vivo em avião, também realizei o sonho de estar sempre voando...(risos)

E no começo da carreira artística? Enfrentou muitas dificuldades?
Algumas, como todo mundo. Mas, na verdade, as dificuldades aumentam na medida em que você vai progredindo na carreira. No início todo mundo apoia, dá força, os amigos acham legal. Depois que você vai fundo e obtém sucesso, muita gente fica ressentida, algumas pessoas não conseguem esconder que ficam até com raiva. Tudo por causa da inveja, que é o maior defeito do ser humano, o pior sentimento que existe.

Aliás, quanto tempo você tem de carreira?
Comecei a cantar profissionalmente em 1990. Então já são 18 anos!

Sente saudade de algum período?
Tenho saudade de algumas pessoas especiais como Elizeth Cardoso, Tom Jobim e Luiz Bonfá, que me ajudaram bastante. Com o Bonfá, além da colaboração musical, eu tive longa convivência como amigo, pois fomos vizinhos na Barra da Tijuca (bairro do Rio de Janeiro) durante onze anos. Também sinto imensa saudade do Dom Um Romão, que tocou comigo desde 1996 até a morte dele em 2005. Melhorei muito como cantora depois que trabalhei com ele, principalmente em termos de fraseado e divisão.

Se tivesse apenas 1 minuto para escolher um artista para dividir o palco com você, quem seria escolhido?
Tony Bennett!

Seu último disco foi o ‘Brazilian Butterfly’, o 10º de sua carreira, certo? Trabalho, por sinal, aclamado pela crítica. A que se deve esse sucesso todo?
Foi uma conjunção de fatores: repertório, grandes músicos e uma produção impecável do Arnaldo DeSouteiro, que é hoje considerado um dos melhores produtores de jazz nos Estados Unidos. O disco teve uma aclamação unânime no mundo inteiro, o que é uma coisa raríssima. Inclusive foi considerado um dos melhores de 2008 pelo staff editorial da DownBeat.

Na última entrevista ao Monitor, você disse que a última gravação de Tom Jobim foi no seu disco ‘Rio Vermelho’ (gravado em outubro de 1994, três meses antes dele falecer). Que “filme” passa em sua cabeça quando você lembra disso?
Sempre me emociono. O Tom partiu antes da hora, ainda estava ativo, o Brasil precisava muito dele como uma espécie de "reserva de qualidade". É um patrimônio nacional, nosso compositor mais conhecido no exterior. Ele tinha gostado do meu primeiro CD, então se ofereceu para participar do segundo. Gravamos três músicas e na hora ele elegeu "É Preciso Dizer Adeus" para entrar no disco. "Esta ficou perfeita", ele disse. E prometeu que regravaria as outras quando voltasse da viagem a Nova Iorque. Eu não sabia que o Tom já estava doente, jamais imaginaria que ele nunca iria voltar. Mas uma das músicas, "Absolute Lee", eu acabei lançando na novela "Celebridade", em 2003. Aliás, já emplaquei dez temas em trilhas de novelas da Rede Globo.

Depois de ter soltado a voz nos quatro cantos do mundo existe algum lugar que você sonha em se apresentar?
Gostaria de cantar em Israel e na Polônia, onde meus pais nasceram.

Em sua opinião, num mercado bastante competitivo e com a popularização de estilos novos, que caminho um músico deve seguir para desenvolver uma carreira sólida?
Estudar, estudar e estudar, ouvindo todos os tipos de música, sem preconceito algum.

Algum projeto novo? O que os seus fãs podem esperar?
Além dos CDs "Obrigado Dom Um Romão" e "Tributo à Stellinha Egg", que estão saindo agora, vou lançar na Ásia o disco em comemoração aos 50 anos da bossa nova, que foi uma encomenda do mercado japonês. Além disso, tenho composto bastante para artistas estrangeiros como a banda Gazzara e o guitarrista Mamoru Morishita.

Qual é o seu nome todo? Ithamara tem alguma razão especial?
Minha mãe quis homenagear uma tia polonesa chamada Ithamariam. Acabou abrasileirando o nome para Ita Mara, que eu depois juntei e coloquei um H. Meu sobrenome de família é Jarlicht. Koorax foi fruto de um estudo secreto...(risos)

Onde você está morando atualmente?
Em avião. Mas venho sempre ao Brasil porque minha mãe e minha irmã moram no Rio. Tenho uma casa em Petrópolis e agora penso em alugar um apartamento em Lucerna, na Suiça. Me encantei pela cidade, é uma Zurique em miniatura, e vai facilitar os meus deslocamentos pela Europa.

Você tem filhos?
Não tenho. Mas não foi uma coisa planejada. Apenas não rolou.

Como é a Ithamara fora dos palcos? Você se preocupa com vaidade? Gosta de malhar?
Não tenho tido tempo de me preocupar. Estou há dois anos adiando uma lipo. Não sou fanática por malhação, mas faço ginástica sempre que possível, nem que seja nas academias dos hotéis, durante as turnês.

Gosta de ler? O que indicaria aos nossos leitores?
Adoro! E leio rápido, então às vezes termino um livro num único dia. Amo escritores como Abgar Renault, Guilherme Figueiredo, Saul Bellow. Acabei de ler a auobiografia do Charles Mingus, "Saindo da Sarjeta", e já reli várias vezes a do Miles Davis, que é uma aula de vida. Ontem comprei "Mulher Brasileira em Primeiro Lugar", do Ludenbergue Góes, porque sou uma das biografadas.

E música? Ouve de tudo ou cada coisa tem seu tempo/fase?
Quase tudo. Mas realmente tenho ouvido jazz cada vez mais. Minha paixão atual é o CD "Across The Crystal Sea", um encontro do pianista panamenho Danilo Perez com o maestro alemão Claus Ogerman e a cantora americana Cassandra Wilson, que está cantando uma barbaridade. Eles fazem música universal, assim como eu.

Que definição faria de você mesma?
Uma mulher que vive e respira música 24 horas por dia.

Quando sobra tempo na agenda, o que gosta de fazer?
Namorar!

O que a faz chorar?

Tony Bennett cantando "How Do You Keep The Music Playing" e Shirley Horn cantando "Here's To Life".

Torce para algum time?
Botafogo.

Qual é o seu signo?
Touro com ascendente em touro.

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